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Experiências como ver um picolé derreter podem ensinar alguma coisa sobre ciências?

Neste artigo, o professor da Universidade de Strathclyde discute a importância das experiências práticas no processo de aprendizagem. Se quisermos que os alunos desenvolvam seu conhecimento de ciências e sejam capazes de usá-lo no futuro, é fundamental que o foco esteja em estratégias que desenvolvam uma compreensão profunda dos conceitos e de como eles são estruturados, em vez de depender de artifícios ou experiências pontuais.
Pexels
Um grupo de cientistas, incluindo integrantes da Royal Society of Chemistry (sociedade científica do Reino Unido), propôs, recentemente, que experiências como lamber um picolé deveriam fazer parte do currículo de ciências. Ao saboreá-lo e, simultaneamente, ver como ele derrete – diz a proposta – as crianças aprenderiam melhor sobre o derretimento e, portanto, sobre química e física.
Mas será que essa experiência, ou outras como modelar massa, brincar com sombras ou cavar no solo, realmente ajuda os alunos a aprender ciências?
A utilização de exemplos e d..

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Neste artigo, o professor da Universidade de Strathclyde discute a importância das experiências práticas no processo de aprendizagem. Se quisermos que os alunos desenvolvam seu conhecimento de ciências e sejam capazes de usá-lo no futuro, é fundamental que o foco esteja em estratégias que desenvolvam uma compreensão profunda dos conceitos e de como eles são estruturados, em vez de depender de artifícios ou experiências pontuais.
Pexels
Um grupo de cientistas, incluindo integrantes da Royal Society of Chemistry (sociedade científica do Reino Unido), propôs, recentemente, que experiências como lamber um picolé deveriam fazer parte do currículo de ciências. Ao saboreá-lo e, simultaneamente, ver como ele derrete – diz a proposta – as crianças aprenderiam melhor sobre o derretimento e, portanto, sobre química e física.
Mas será que essa experiência, ou outras como modelar massa, brincar com sombras ou cavar no solo, realmente ajuda os alunos a aprender ciências?
A utilização de exemplos e demonstrações em sala de aula pode ser uma porta de entrada útil para uma compreensão mais profunda, mas não é um atalho para o conhecimento.
A ideia de aprender por meio de vivências tem uma longa história. Talvez esteja mais intimamente associada ao trabalho do educador John Dewey no início do século XX. Dewey, e outros educadores da época, estavam preocupados com o fato de que a ênfase na aprendizagem mecânica levaria ao “conhecimento inerte”: fatos que os alunos não conseguiriam aplicar ao mundo real.
Uma experiência como lamber um pirulito pode, no mínimo, ser memorável, especialmente se você nunca tiver feito isso antes. Chupar um picolé ou vê-lo derreter na sala de aula levaria ao que os psicólogos chamam de memória episódica: uma lembrança de um evento em sua vida.
Experiência e compreensão
Entretanto, há uma diferença entre ter lembranças e ter conhecimento. Há distância enorme, por exemplo, entre ter vivenciado a Revolução Francesa e saber o que aconteceu.
Esse último envolve um tipo diferente de memória – as semânticas. Elas se baseiam na compreensão de como as coisas funcionam e o que significam. É o tipo de memória que está em jogo quando você usa uma palavra como “pesado”, sem conexão com um objeto de peso específico. Esses entendimentos são essenciais tanto para o aprendizado científico quanto para o uso da linguagem.
Se você parar para pensar, a maior parte do seu conhecimento não pode ser claramente vinculada a uma experiência determinada. O aprendizado, geralmente, não é um processo único – pense na quantidade de diferentes situações que um jardineiro precisa ter vivido antes de “saber” como as plantas crescem e se desenvolvem.
Essas memórias semânticas derivam de um amálgama de muitas práticas e, às vezes, da comparação e do contraste de coisas diferentes: como entre dois tipos de plantas ou entre um picolé e um sorvete.
Aprender sobre derretimento é semelhante. Não demonstramos o fato apenas uma vez e, bum!, os alunos aprenderam.
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Importância do contexto
Compreender a ciência ou qualquer outra coisa também não se trata apenas de lembrar eventos. Os alunos precisam entender o encontro, ter sua atenção direcionada para processos semelhantes e diferentes e conhecer múltiplos exemplos.
Para tirar o máximo proveito disso, os estudantes necessitam de conhecimento prévio suficiente sobre o que está acontecendo quando observam algo em sala de aula. Esse é um dos motivos pelos quais deixar que os alunos descubram as coisas sozinhos é uma estratégia falha.
Esse também é outro motivo pelo qual confiar em experiências pontuais não funciona. Os alunos precisam revisitar as ideias periodicamente, cada vez trazendo mais informação e compreensão para a mesa.
Sem um entendimento básico da ciência, há o risco de o aluno não conseguir conectar uma observação em sala de aula ao seu contexto mais amplo. Saber sobre o derretimento, por exemplo, é muito mais do que saber que um picolé derrete – envolve entender porque e em que circunstâncias isso acontece. Também inclui levar em conta que outras substâncias cotidianas derretem em temperaturas mais altas.
Isso é importante para impedir que se tenha concepções científicas errôneas. No exemplo do picolé, os alunos podem generalizar demais as características da superfície, como a rapidez com que ele derrete ou o quanto é pegajoso, e entendê-las como características do derretimento em geral.
Em resumo, aprender sobre a ciência, ou qualquer outra coisa, não é apenas lembrar-se de eventos vividos. Trata-se de ampliar o entendimento: a que experiência ele está ligado, de que categoria é um exemplo e como difere de outros conceitos.
Aprendizado pessoal
Outra afirmação notável na história do picolé foi a sugestão de que é importante promover o aprendizado “em nível pessoal”. Há pesquisas sobre isso também.
Imagine que lhe pediram para lembrar uma lista de palavras aleatórias, como “música, brócolis, dança, garrafas plásticas, tubarões bebês”.
Um estudo sobre a memória descobriu que as pessoas se lembravam melhor de palavras de listas como essa, se lhes fosse perguntado “você gosta disso?” em comparação com uma pergunta mais simples, de processamento de informações, como “a palavra contém a letra ‘e’?” Também nos lembramos melhor de nossas próprias posses (ou seja, o que possuímos) do que de objetos genéricos.
Portanto, sim, há algumas evidências de que podemos reter melhor as experiências se estivermos pessoalmente envolvidos nelas. Entretanto, vale a pena observar que esses experimentos são de curto prazo. E na vida cotidiana, podemos realmente gostar e nos envolver diretamente com algo, como um livro ou uma conversa, mas esquecer os detalhes em algumas semanas ou meses.
Em parte, é por isso que as pessoas escrevem diários. As lembranças de nossas vidas são efêmeras e se perdem facilmente com o tempo. Às vezes, essas memórias são distorcidas ou até mesmo inteiramente imaginadas – falsas memórias. É arriscado basear o aprendizado de ciências nesse tipo de memória.
Se quisermos que os alunos desenvolvam seu conhecimento de ciências e sejam capazes de usá-lo no futuro, é fundamental que o foco esteja em estratégias que desenvolvam uma compreensão profunda dos conceitos e de como eles são estruturados, em vez de depender de artifícios ou experiências pontuais.
Tudo isso sem falar na praticidade de armazenar um picolé para cada aluno da escola, distribuí-lo em sala de aula ou limpá-la depois.
*Jonathan Firth é professor sênior em Educação na Universidade de Strathclyde.
**Este texto foi publicado originalmente no site da The Conversation Brasil.

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