Infectologistas defendem que ambiente escolar é seguro, mas adultos precisam reforçar o uso de máscara e protocolos sanitários. Pedagoga vê riscos em volta das atividades remotas, mas recomenda atenção. Nas últimas semanas, a média móvel dos casos de Covid-19 voltou a subir no país, chegando mais de 30 mil casos por dia no começo de junho. Muitas cidades voltaram a recomendar o uso da máscara e municípios como Araraquara e São José do Rio Preto, no interior de SP, voltaram a exigir o uso da proteção em locais fechados e com aglomeração.
Em maio, escolas particulares de Belo Horizonte (MG) anunciaram a suspensão temporária das aulas presenciais em algumas turmas após confirmação de casos de Covid-19. Em Analândia (SP), a prefeitura também suspendeu as atividades presenciais da rede municipal.
Mais recentemente, um levantamento feito pelo sindicato que representa os professores da rede estadual de São Paulo mostrou que os casos de Covid-19 aumentaram mais de 300% nas últimas semanas.
Isso tem feito pais e responsáveis se questionarem:
É ou não é seguro mandar os filhos para as aulas presenciais?
O pediatra e infectologista Marcelo Otsuka é categórico e diz que crianças sem comorbidades ou outros impedimentos médicos devem continuar frequentando as aulas.
"O ambiente escolar permanece sendo o mais seguro, especialmente para as crianças que já estão com o cronograma vacinal completo ou que vão tomar a segunda dose em breve", diz.
Para o especialista, que é coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o que precisa de atenção neste momento é a manutenção dos protocolos sanitários especialmente por parte dos adultos que estão em volta das crianças.
"Precisamos ter em mente que os adultos ainda são os principais responsáveis por transmitir o vírus para as crianças, portanto devemos manter os cuidados que já conhecemos. Assim, as crianças podem permanecer frequentando a escola, que é onde devem estar".
Alunos de escolas da cidade de Plácido de Castro
Arquivo/Prefeitura de Plácido de Castro
Marcelo Otsuka reforça que nem todas as crianças devem frequentar o ambiente escolar indiscriminadamente, uma vez que certos casos demandam análise médica.
"Algumas crianças não podem ser vacinadas, então têm essa camada de proteção a menos. Crianças com doenças como câncer que fazem tratamento quimioterápico, com doença imunossupressora como aids, ou com imunodeficiências primárias (que têm distúrbio no sistema imune e estão sujeitas a terem infecções recorrente) precisam de atenção maior e dependem da avaliação de um especialista".
Da mesma maneira, o aluno que está com sintomas de Covid ou tem alguém na família com o vírus deve permanecer em casa pelo período de isolamento.
"São estes cuidados que vão garantir que os casos de Covid voltem a cair", completa o médico.
Risco de prejuízo pedagógicos são maiores, dizem especialistas
Renato Kfouri, pediatra e infectologista que preside Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, concorda que os responsáveis devem continuar estimulando as crianças a irem à escola.
"Neste momento, o risco educacional de ficar fora da escola é maior para o aluno. Os prejuízos pedagógicos observados nos últimos anos e o atual momento pandêmico mostram que a escola é o melhor lugar para as crianças", diz o especialista.
Segundo ele, considerar a suspenção das aulas presenciais e voltar com as atividades remotas é infundado se os demais estabelecimentos continuarem abertos e funcionando sem restrições.
"Não faz sentido estarmos com estádios de futebol, comércio e academias abertos e fechar as escolas. Se for uma situação de lockdown, aí, sim, é recomendado que as aulas presenciais sejam suspensas", explica.
"Nestes momentos de maior circulação do vírus, devemos ter mais cuidado em todos os ambientes, inclusive nas escolas, e abusar das medidas não farmacológicas como manter o distanciamento, lavar as mãos, manter o uso de máscaras. Mas, deixar de mandar a criança para a escola só vai impedi-la de ter um desenvolvimento educacional fundamental", completa.
Vacina crianças escolas Maceió
Pedro Farias/Ascom Semed
Além disso, completar o esquema vacinal contra a Covid é fundamental, de acordo com o especialista. "O que fez com que essas novas ondas tivessem menos casos graves e menos mortes foi a vacinação. É essa medida que vai impedir que as crianças — e os adultos também — adoeçam do vírus", finaliza.
A pedagoga Salete Ohana é especialista em gestão escolar e acredita que é preciso cuidado e atenção neste momento. Ela defende que é necessário analisar as mudanças sutis no pandemia, em especial no ambiente escolar.
"Com casos de Covid aumentando, é indispensável que as autoridades fiquem atentas para tomar as devidas precauções. O objetivo principal deve ser garantir a segurança dos alunos e diminuir os impactos ao aprendizado", analisa.
Para Ohana, o formato de aula presenciai é a melhor opção, desde que as autoridades sanitárias mantenham os protocolos para garantir a tranquilidade nas escolas.
"Não podemos pensar apenas no desempenho acadêmico de nossas crianças se não há segurança no ambiente em que estão inseridos. Mas não dá para desconsiderar este aspecto. Portanto, é preciso pensar em conjunto", conclui.
Escolas devem reforçar os protocolos contra a Covid
Em abril, o Colégio João Paulo II, de Aracaju (SE), registrou cinco casos de Covid entre alunos e funcionários e chegou a discutir com pais e infectologistas sobre qual protocolo adotar. A decisão de manter as aulas presenciais foi quase unânime.
"Entendemos que o importante é manter os alunos na sala de aula, aprendendo, e ainda assim mantendo a segurança", conta a pedagoga Camila Figueiredo, orientadora da escola.
Para isso, a escola reforçou a orientação sobre o uso de máscara para os funcionários e para corpo discente e faz intervalo revezado entre as turmas para evitar aglomeração.
"São cuidados simples que fazem toda a diferença", diz Camila.
Apesar de alguns pais terem sugerido o retorno das aulas remotas, a decisão foi de reforçar os cuidados e o controle.
"Nossos funcionários fazem teste duas vezes por mês e seguem as orientações sanitárias. Para os alunos, contamos com a colaboração dos pais para orientar e reforçar a importância de manter os cuidados. E se o aluno ou algum familiar tem algum sintoma, orientamos que fique em casa e acompanhe o conteúdo pedagógico pelo material que disponibilizamos em nossa plataforma, podendo falar com o professor quando necessário", explica.
Outro motivo que levou a escola a decidir pelas aulas presenciais foi a queda no aprendizado dos alunos durante os meses de aulas remotas.
"Em 2020 e 2021, notamos que a taxa de participação e aprendizado dos alunos caiu muito, mesmo que tenhamos adotado uma ferramenta prática e interativa de aulas e atividades neste período", conta.
A orientadora diz que os alunos estão mais participativos, mas que foi possível sentir o impacto que os meses longe da sala de aula causaram.
"Notamos alunos que regrediram na escrita e leitura, outros que ficaram introvertidos ou estavam com dificuldade de concentração. Voltar com as aulas presenciais foi fundamental para reverter estes problemas e retornar com as atividades on-line poderia ser ainda mais prejudicial para eles", avalia.
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