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EDUCAÇÃO G1

Cidade pobre, educação boa – qual o segredo e o futuro dos bons resultados no Ceará?

Aulas extras, foco em avaliações e professores próximos da família: a BBC foi até Pires Ferreira (CE) para entender como essa cidade chegou à melhor nota da educação básica no Brasil.
Milena Costa se tornou professora em Pires Ferreira, onde salas são organizadas em forma de “U”.
Vitor Serrano/BBC
Em uma casa de uma merendeira e um agricultor na zona rural de Pires Ferreira, no sertão do Ceará, nasceram seis professores.
“Meus pais diziam que educação e o conhecimento ninguém rouba”, conta Milena Costa, de 24 anos, a filha mais nova da família e professora da rede municipal.
“Agora, estamos tendo a oportunidade de melhorar de vida.”
Recém-aprovada no concurso para professor da cidade, Milena chora ao contar como, um a um, seus irmãos (quatro mulheres e um homem) foram mostrando que o caminho para mudar a realidade, mesmo em uma cidade de poucas oportunidades, passa pela educação.
A história da família Costa ilustra o papel que o ensino tem exercido na cidadezinha cearense de pouco ma..

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Aulas extras, foco em avaliações e professores próximos da família: a BBC foi até Pires Ferreira (CE) para entender como essa cidade chegou à melhor nota da educação básica no Brasil.
Milena Costa se tornou professora em Pires Ferreira, onde salas são organizadas em forma de "U".
Vitor Serrano/BBC
Em uma casa de uma merendeira e um agricultor na zona rural de Pires Ferreira, no sertão do Ceará, nasceram seis professores.
"Meus pais diziam que educação e o conhecimento ninguém rouba", conta Milena Costa, de 24 anos, a filha mais nova da família e professora da rede municipal.
"Agora, estamos tendo a oportunidade de melhorar de vida."
Recém-aprovada no concurso para professor da cidade, Milena chora ao contar como, um a um, seus irmãos (quatro mulheres e um homem) foram mostrando que o caminho para mudar a realidade, mesmo em uma cidade de poucas oportunidades, passa pela educação.
A história da família Costa ilustra o papel que o ensino tem exercido na cidadezinha cearense de pouco mais de 10 mil habitantes, aos pés da Serra da Ibiapaba, perto da divisa com o Piauí.
O cartão de visitas dali — estampado em muros, placas e uniformes das crianças — é o resultado que a cidade vem registrando nos índices nacionais de educação.
Pires Ferreira recebeu nota 10 no último Índice Nacional de Educação Básica (Ideb) para os anos iniciais do ensino fundamental, a maior nota no Brasil.
O Ideb é o principal índice da educação básica do Brasil e é calculado com base em dois indicadores: a taxa de aprovação escolar; e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), no quinto e no nono ano do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio.
As cidades com melhor e pior IDEB do país. Dados do Ideb 2023, para os anos iniciais do ensino fundamental
BBC
Ao mesmo tempo, a cidade é uma das mais pobres do Ceará e até do país.
No ranking do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que é a soma das riquezas produzidas pelo município dividido pelo número de habitantes, é o 5477º entre 5570 municípios.
No ranking de renda média de trabalhadores formais, é o 5532º, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os resultados expressivos da educação em Pires Ferreira, porém, fazem com que haja, entre analistas e a própria população, uma expectativa de que a situação da economia local mude no futuro próximo.
"Em algum momento, vai haver retorno", opina Victor Hugo de Oliveira, analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
É certo que a economia de Pires Ferreira — movida pela pesca, agricultura e pequenas olarias — não vai absorver todos os estudantes que estão se formando e vão alçar voos em universidades e empresas longe dali.
Mas Oliveira argumenta que o resultado do bom desempenho da educação local pode vir de várias formas, seja com a volta de alguns profissionais qualificados ou, em última instância, com o desenvolvimento por tabela que esses filhos da terra levarão ao Estado ou ao país.
Aos pés da Serra de Ibiapaba, Pires Ferreira é uma cidade predominantemente rural.
Vitor Serrano/BBC
Mas, além de Pires Ferreira, o Ceará, de uma forma geral, tem se destacado nos rankings de educação há anos.
Qual o resultado concreto que já pode ser visto? E qual o segredo para se manter no topo?
Neste ano de eleições municipais, a BBC News Brasil visitou municípios que estão em primeiro e último lugar em rankings de indicadores sociais para investigar o que um país desigual como o Brasil pode aprender com seus extremos.
Além de Pires Ferreira, a reportagem foi à cidade pior colocada no ranking do Ideb — Manaquiri, no Amazonas.
Outra equipe visitou os municípios com melhor e pior colocação no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) — São Caetano do Sul (SP) e Melgaço (PA).
Melhor resultado = mais dinheiro
Patrícia diz que ser uma cidade pequena ajuda, já que todos se conhecem e se apóiam.
Vitor Serrano/BBC
Dona de uma papelaria no centro de Pires Ferreira, a professora Patrícia Marques, de 31 anos, já rodou o Ceará para espalhar a experiência das escolas da cidade.
“Por conta que nós somos uma cidade pequena, as cidades maiores ficam pensando ‘poxa, como assim vocês se destacam? Não faz sentido’", diz Patrícia.
"Mas, para a gente, faz sentido, porque, por ser essa cidade pequena, todo mundo se conhece, então todo mundo se ajuda.”
Patrícia fez parte de um projeto no Ceará em que professores de escolas bem ranqueadas em provas estaduais de avaliação precisam visitar as escolas mal avaliadas para traçar estratégias que as façam se aproximar das metas.
Esse é um dos braços que fez a política educacional cearense ter tido bons resultados nos últimos anos, explica o economista Victor Hugo de Oliveira, do Ipece.
Em Fortaleza, o economista Victor Hugo de Oliveira explica que política educacional do Ceará se tornou suprapartidária.
Vitor Serrano/BBC
Em 2007 e 2008, o Ceará lançou mão de duas importantes medidas que são consideradas pontos de inflexão no contexto da educação.
Primeiro, o chamado programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), que tinha como objetivo priorizar a alfabetização dos alunos até o final do 2º ano do ensino fundamental.
A ideia era oferecer à educação municipal estratégias para esses anos iniciais, além de incentivar as cidades a adotar medidas de cooperação, condicionando isso ao recebimento de prêmios em dinheiro para escolas.
Depois, veio a necessidade de incorporar uma maneira de incentivar municípios a ter melhores resultados de educação.
A ideia veio por meio do repasse do ICMS, o imposto estadual sobre a circulação de mercadorias e a prestação de serviços.
Um Estado é obrigado a repassar parte do que é arrecadado às cidades, mas é livre para escolher os critérios — como o tamanho da população, por exemplo.
No Ceará, ficou decidido que os resultados educacionais seriam um fator para a escolha de qual município ganha mais.
“A ideia foi: o Ceará vai incentivar os municípios a melhorar a educação com aporte de mais recursos com melhores resultados, mas, ao mesmo tempo, vai prover um caminho para eles conseguirem melhorar”, explica Oliveira.
Esse valor não precisa ser obrigatoriamente reaplicado na educação. Pode ser direcionado a qualquer área da cidade.
Os resultados dessa política, que não foi descontinuada desde então e foi incorporada pelas próprias cidades, têm ajudado o Ceará a sanar deficiências históricas.
Cearenses superam a média nacional no número de anos de estudos em 2024. Dados da PNAD Contínua Trimestral/IBGE
BBC
Um exemplo é a média de anos de estudo da população cearense. Entre os jovens de 15 a 24 anos — ou seja, os que já foram de fato atingidos por essa política educacional —, a quantidade de anos de escola superou a média do Brasil pela primeira vez em 2024.
"Nossa cidade agora está tendo a oportunidade que aqueles mais velhos, como os meus pais, há alguns anos infelizmente não tiveram", conta a professora Milena Costa.
O Ceará também tem tido sucesso em reverter maus resultados históricos da chamada distorção idade-série, que avalia os alunos que estão fora da faixa etária adequada para sua série.
Uma análise da Fundação Getúlio Vargas (FGV) baseada em dados do Censo Escolar 2023 mostra que o Ceará hoje tem a menor taxa média dessa distorção no Nordeste e também já está em melhor situação que a média nacional.
Em Pires Ferreira, essa taxa é perto de zero. Ou seja, quase toda criança está na série em que deveria estar.
Aula extra e ranking de alunos
A rede municipal de ensino de Pires Ferreira é pequena. São 1.966 alunos e 17 escolas, incluindo a educação de jovens e adultos (EJA).
Mesmo sendo uma cidade espalhada, com 70% da população vivendo em distritos rurais, as crianças não precisam percorrer distâncias muito longas para chegar aos colégios.
Isso também quer dizer que as comunidades escolares têm uma relação de proximidade (física e emocional) com as famílias.
Na escola do pequeno povoado de Marruás dos Rosas, muitos dos professores são nascidos e criados ali, assim como a própria coordenadora.
Alunos de Pires Ferreira, como Lorena, são incentivados a participar de olimpíadas de conhecimento e recebem medalhas.
Vitor Serrano/BBC
Mãe de Lorena, uma das alunas, a dona de casa Antônia Solange Oliveira acredita que esse é um dos diferenciais dali.
"Como conhecem, eles estão sempre atentos às crianças. A gente vê que as professoras correm atrás dos melhores, junto com as famílias", diz.
Lorena, que, aos 10 anos, sonha em ser jogadora de futebol, guarda e mostra com orgulho dezenas de medalhas que ganha em competições locais e nacionais.
Participar dessas olimpíadas de conhecimento é um incentivo constante na cidade — nas casas, é comum encontrar as medalhas penduradas na sala.
Em Pires Ferreira, as escolas também fazem uma avaliação bimestral para saber se os alunos estão aprendendo o conteúdo.
Caso o aprendizado não seja o ideal, os estudantes passam a ter aulas de reforço —ou seja, se estudam de manhã, à tarde ficam com outro professor, em turmas pequenas, para aulas extras. Se necessário, esses alunos também têm aulas nas férias.
Nas salas de aula, quadros colocam alunos em rankings de acordo com resultados.
Certamente, esse foco em resultado e exercícios tem dado a Pires Ferreira sua boa colocação — já que o Ideb leva em conta resultados de provas de português e matemática e a taxa de aprovação escolar.
Mas alguns educadores do Ceará têm se tornado vozes dissonantes desta política de metas e avaliações.
A pedagoga e pesquisadora Karlane Holanda dedicou anos de pesquisa conversando com alunos em escolas por todo o Estado para entender como as crianças entendem o que ela chama de "circuito de pressão pelos resultados".
Em um dos experimentos para o doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), ela analisou um momento de entrega de medalhas para o "aluno nota 10" em uma sala de aula.
"A gente queria ver como as outras crianças se sentiam. Vimos situação de choro, agressividade, crianças batendo a porta ou esmurrando a parede em casa com raiva", diz Holanda, que hoje forma professores no Instituto Federal do Ceará (IFCE) em Paracuru, no litoral do Estado.
"O sistema aqui no Estado tem fortalecido essa ideia de ranqueamento. A avaliação em provas está balizando o que os professores estão ensinando. Isso deveria ser apenas um instrumento, não um fim em si mesmo."
As famílias com quem a BBC News Brasil conversou disseram que não se incomodam com o foco em provas e competições da educação em Pires Ferreira.
A professora Milena Costa diz que a ideia não é colocar um aluno contra o outro.
"A gente conversa com os alunos em dificuldade. Não é só reconhecer os melhores resultados, a gente também entrega medalhas ao destaque do mês, que é um reconhecimento ao aluno que mostrou uma evolução, mesmo pequena, em relação à avaliação anterior."
Estado + município
Prefeita Lívia Muniz (PSB) defende união entre Estado e municípios no Ceará.
Vitor Serrano/BBC
Para a prefeita reeleita de Pires Ferreira, Lívia Muniz (PSB), o Ceará tem se destacado nos últimos anos, porque o Estado conseguiu fazer com que os municípios se engajassem em sua política educacional.
"Os prefeitos se conversam para trocar boas experiências", diz a prefeita, destacando conexões com cidades vizinhas que também têm apresentado bons indicadores, como é o caso de Sobral.
"Tenho certeza de que novas administrações virão e que isso vai continuar", completa.
Mas, além dos índices educacionais, o Ceará e seus municípios terão mudanças na realidade socioeconômico?
Victor Hugo de Oliveira, do Ipece, acredita que a resposta mais clara surgirá nos próximos anos, quando alunos que começaram a ser alvo das intervenções na educação estarão chegando ao mercado de trabalho.
O analista espera ver os dados de emprego e renda dessa geração, mas já acredita que verá resultados.
"O grande resultado de uma política educacional é dar oportunidade melhor para esses jovens, seja em Pires Ferreira ou em outro local. Esse é o legado que a educação vai deixar", diz Oliveira.
A prefeita Lívia Muniz diz que espera que os jovens retornem: "Não temos hoje grandes investimentos na cidade, mas a gente acredita que essa melhoria vai vir, porque tendo uma melhor educação, a gente vai ter melhores empregos e pessoas investindo aqui".
O economista Naercio Menezes Filho, professor do Insper e da Universidade de São Paulo, diz que alunos de cidades como Pires Ferreira, com bons índices e pouca repetência, tendem a alcançar melhores vagas no futuro.
Ele fez um estudo que mostra que esses jovens "vão trabalhar mais no setor formal da economia e entrar mais em faculdades".
Mas Menezes Filho avalia que, se a cidade não tiver condições adequadas, pode não conseguir segurar essa força de trabalho jovem.
"Mas tudo bem, não vai resolver o problema da cidade, mas o país como um todo está ganhando com pessoas mais bem formadas, né?"
Para a professora Milena Costa, não importa qual será a escolha de seus alunos, hoje no sexto ano do ensino fundamental. "Meu sonho é que eles continuem sonhando", diz.
"Pode ser que eles virem meus colegas de profissão, assim como eu virei das minhas professoras."
Em Pires Ferreira, ser professor também é sonho de crianças como Nara Ellen, de 12 anos, moradora do distrito de Otavilândia.
"Sinto que professor é uma pessoa muito importante na nossa vida. Então, eu quero fazer pedagogia, ser uma professora e ser importante na vida de muitas crianças", diz.
Nara Ellen sonha em ser professora em Pires Ferreira.
Vitor Serrano/BBC

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Sisu 2025: inscrições começam 17 de janeiro; veja cronograma

Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham ..

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Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham feito o Enem 2024 e tirado nota acima de zero na redação. Treineiros não serão aceitos.
➡️Poderei escolher em qual semestre vou entrar na faculdade? Não. Caberá à universidade, por meio da ordem da lista de classificação de candidatos, selecionar quem estudará em cada semestre. A classificação é determinada pelo desempenho de cada participante no Enem 2024.
➡️O programa possui cotas? Sim, e funciona da seguinte maneira:
Todos os candidatos concorrerão, primeiramente, às vagas de ampla concorrência.
Caso não alcancem as notas nesta modalidade e façam parte de algum dos grupos de cotas (os critérios são de raça e de renda), aí, sim, entrarão na disputa pelo benefício.
Com isso, se uma pessoa autodeclarada preta, por exemplo, tirar uma nota mais alta que a exigida na ampla concorrência, será aprovada na "lista geral" e não tirará a vaga de um cotista com desempenho mais baixo.
➡️Qual o cronograma?
Inscrições: 17 a 21 de janeiro
Resultados da 1° chamada: 26 de janeiro
Matrículas: 27 a 31 de janeiro
Manifestação de interesse na lista de espera: 26 a 31 de janeiro
5 cuidados para tomar ao se inscrever no Sisu

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Bombou no g1: questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova; relembre

Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
“Isso é conteúdo de faculdade!”, “Como você quer que eu saiba?” e “Cadê o resto [da questão]?”. Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia qu..

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Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
"Isso é conteúdo de faculdade!", "Como você quer que eu saiba?" e "Cadê o resto [da questão]?". Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia que os estudantes calculassem a média no boletim de uma pessoa, sem que nenhuma nota fosse divulgada no enunciado. A única informação disponível era a seguinte: quando o "personagem" fez a conta, dividiu o total por 5, e não por 4. E, com isso, chegou a um resultado que era uma unidade menor do que o correto.
Segundo professores de quatro cursinhos ouvidos pelo g1 (Anglo, pH, Poliedro e Professor Ferretto), essa questão não estava entre as 10 mais difíceis da prova. O que provavelmente desestabilizou os candidatos foi a aparente (e ilusória) falta de dados.
Abaixo, veja a resolução feita por Rodrigo Serra, professor de matemática do Colégio Oficina do Estudante:
Questão sobre média de notas viraliza nas redes: 'cadê o resto da pergunta?'
🖊️ Resposta: B.

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A radical teoria pós-quântica, que tenta responder o que Einstein não conseguiu

A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
“Uma nova moda surgiu na Física”, queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa “moda” era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
“Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física”, chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons,..

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A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
"Uma nova moda surgiu na Física", queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa "moda" era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
"Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física", chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons, glúons e quarks que constituem os átomos.
💡Por sua vez, a relatividade geral, que é a moderna teoria da gravidade, provou ser a melhor descrição de tudo o que acontece em grande escala, desde o funcionamento do Sistema Solar e dos buracos negros até a origem do universo.
No entanto, elas permanecem contraditórias entre si. Ou seja, as regras da relatividade geral funcionam perfeitamente para as galáxias, bem como para tudo o que nos rodeia e é visível: uma árvore, um gato, uma pérola…
Porém, assim que analisamos o comportamento de algo tão pequeno como um átomo, tudo muda.
Os pesquisadores não conseguem nem usar a mesma Matemática para explicar uma teoria e outra.
De alguma forma, a natureza consegue fazer com que os dois sistemas coexistam — mas a Ciência ainda não fez o mesmo.
Para muitos, esta incompatibilidade é a maior questão sem resposta da Física.
Einstein e milhares de outros pesquisadores em todo o mundo procuraram criar uma teoria que unisse a física quântica e a relatividade geral.
É o que muitos chamam de "teoria de tudo", um nome tão atraente que virou título do premiado filme biográfico de Stephen Hawking, um dos renomados cientistas que tentaram — também sem sucesso — encontrar o "Santo Graal" da Física.
Agora, uma nova teoria propõe uma virada radical nesta charada secular.
Seu nome, porém, é menos mercadológico: ela é chamada de teoria pós-quântica da gravidade clássica e é liderada pelo físico Jonathan Oppenheim, do Instituto de Ciência e Tecnologia Quântica da Universidade College London (UCL), no Reino Unido.
Trata-se de algo tão revolucionário que mesmo alguns dos seus detratores reconhecem que essa é a primeira abordagem verdadeiramente original a surgir em pelo menos uma década.
Há mais de 100 anos vivemos num universo cujas bases foram estudadas e definidas por Einstein
Getty Images/via BBC
A quarta força fundamental
Embora possa parecer contraditório, um dos aspectos mais inovadores da teoria de Oppenheim é o termo "clássico" em seu nome.
Até agora, a abordagem predominante para resolver a incompatibilidade entre a física quântica e a relatividade geral envolve modificar o último sistema para ajustá-lo ao primeiro.
É o que os físicos chamam de "quantização", porque no final ela se converte numa teoria quântica.
"Quantizar" a relatividade geral faz ainda mais sentido se pensarmos que é algo que os cientistas já conseguiram fazer com as outras três forças fundamentais que governam o universo: a força nuclear fraca, a força nuclear forte e a força eletromagnética.
Mas eles simplesmente não conseguiram fazer o mesmo com a gravidade — e não foi por falta de tentativa.
"É um problema matemático muito difícil", contextualiza Oppenheim à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Mas também é conceitualmente complicado, porque essas duas teorias têm diferenças tão fundamentais que é muito difícil conciliá-las."
Ele explica: "Quase todas as tentativas assumiram que devemos 'quantizar' a gravidade. A minha sensação sobre a razão pela qual essa tarefa tem sido tão difícil é que talvez não seja possível e que apontamos para a coisa errada."
Por isso, o pesquisador e a equipe dele decidiram mudar o foco e "modificar um pouco, ou muito, a teoria quântica, para que esses dois sistemas possam se encaixar".
Na nova teoria, publicada em dezembro de 2023 nas revistas Nature Communications e Physical Review X, a relatividade geral continua a ser uma teoria não quântica, ou clássica.
A física Sabine Hossenfelder, do Centro de Filosofia Matemática de Munique, na Alemanha, que não fez parte da pesquisa da UCL, diz à BBC News Mundo que a ideia de Oppenheim "é muito legal".
"É muito raro neste campo ver nascer uma nova ideia", observa a especialista.
Hossenfelder fez parte de um comitê que revisou a teoria há seis anos e, embora a achasse interessante, considerou que ela era "muito especulativa, imatura e vaga".
"Tinha tantas pontas soltas que parecia que poderia falhar completamente, por isso fiquei muito impressionada quando vi o que saiu vários anos depois, porque abordava quase todos esses pontos levantados", diz ela, que esclarece com um sorriso "sempre ter algo a comentar e a observar".
Dois conceitos básicos e um 'inaceitável'
O tecido (quadriculado branco na ilustração), que representa o espaço-tempo, deformado por uma bola (em amarelo), que faz alusão a uma estrela como o Sol
BBC
Uma bola de menor massa (em verde) acompanha a curvatura do tecido quadriculado causada pela maior (em amarelo), como acontece com a Terra em relação ao Sol
BBC
Antes de seguir a explicação sobre a teoria de Oppenheim, é importante compreender o conceito básico da relatividade geral e uma das características da física quântica que mais perturbou Einstein.
O que Einstein fez para revolucionar a Ciência em 1915 foi definir a gravidade como "uma deformação do espaço-tempo".
A maneira mais fácil de compreender esse conceito é pensar em um trampolim onde colocamos uma bola pesada — por exemplo, uma bola de bilhar.
Quando uma coisa dessas acontece, o tecido afunda no local onde a bola está.
Agora, imagine jogar nesse mesmo trampolim uma bola mais leve (uma bola de gude), e tentar fazê-la girar na borda da curvatura do tecido relacionada ao peso da bola mais pesada.
O que acontece é que a bola de gude vai se mover em círculos cada vez menores, aproximando-se da bola de bilhar.
Segundo a teoria da relatividade geral, isso não acontece porque a bola de bilhar exerce sobre a bola de gude uma força de atração invisível, mas porque o formato do tecido — ou melhor, a sua deformação — a obriga a fazer essa curvatura.
Na teoria de Einstein, o espaço-tempo faz a mesma coisa de forma quadridimensional — de modo que a Terra gire em torno do Sol, por exemplo.
Oppenheim explica que, na teoria pós-quântica da gravidade clássica "o espaço-tempo se mantém como aquele tecido em que vivem as partículas quânticas, tal como Einstein concebeu".
O que muda é que o espaço-tempo incorpora o acaso da física quântica, característica que deu origem a uma das frases mais famosas de Einstein: "Deus não joga dados."
Einstein acreditava que faltava informação na "moda" da física quântica, mas o que décadas de estudos têm mostrado é que a aleatoriedade não se deve a um erro na teoria ou a uma falha nas medições, mas a uma característica inerente ao comportamento das partículas fundamentais.
Oppenheim e sua equipe unem a física quântica e a relatividade geral, tornando o espaço-tempo também inerentemente aleatório.
"Ainda temos essa aleatoriedade na teoria quântica, mas ela é mediada pelo próprio espaço-tempo", explica o físico.
Em outras palavras, o próprio tecido começa a apresentar oscilações aleatórias.
Isto é algo "inaceitável" para muitos dos seus colegas — e é provável que Einstein também pensasse o mesmo.
"A estrutura aleatória do espaço-tempo é o que, em certo sentido, lança os dados na teoria quântica", compara Oppenheim, parafraseando Einstein.
'Ganha-ganha'
"Cada vez que você propõe uma nova teoria, é preciso fazer uma série de verificações para ver se ela é consistente com as observações", explica Oppenheim.
"E é emocionante que esta teoria faz previsões que podem ser testadas experimentalmente."
"Ao levar em conta que esta teoria exige que o espaço-tempo tenha flutuações, podemos busca-las", acrescenta ele.
Para isso, os pesquisadores propõem medir o peso de uma massa com extrema precisão e verificar se ela é constante ou se apresenta certas oscilações.
Por exemplo, o Escritório Internacional de Pesos e Medidas, localizado na França, pesa rotineiramente um objeto que foi usado para criar o padrão mundial do que é hoje considerado exatamente um quilo.
Ao utilizar novas tecnologias de medição quântica, de acordo com a teoria pós-quântica da gravidade clássica, o peso do referido objeto deixaria de ser um quilo e se tornaria imprevisível.
"Se encontrarmos as flutuações, provaremos que a teoria é verdadeira e, se não as encontrarmos, conseguiremos refutá-la", diz Oppenheim.
"Isso é particularmente emocionante", confessa ele.
Mas há ainda mais coisas a descobrir.
Oppenheim entende que a nova teoria poderia responder a outra das grandes incógnitas da Física moderna: o que são a matéria escura e a energia escura.
Para entender a importância disso, é primeiro antes saber o que esses conceitos são (e não são).
Todos os planetas, estrelas e objetos cósmicos visíveis são feitos da chamada matéria normal. Juntos, eles representam cerca de 5% do universo.
Os 95% restantes ainda são um mistério — e por isso são chamados de matéria escura e energia escura.
Se nos estudos para verificar a nova teoria, as flutuações forem suficientemente intensas, elas "seriam candidatas muito fortes para o que pensamos ser matéria escura e energia escura", segundo Oppenheim.
"Isso explicaria 95% da evolução do Universo, o que representaria um grande impacto", complementa o pesquisador.
Por sua vez, Hossenfelder destaca que a equipe da UCL desenvolveu uma Matemática completamente nova para esta teoria e afirma que a mera existência desses trabalhos pode ser útil para outros fins.
Em suma, a história da Ciência está repleta de pesquisas que tiveram aplicações inesperadas.
O próprio Einstein, aliás, acendeu a centelha que levou à física quântica — a qual ele renunciou até o fim da vida.
"Se houvesse algo que pudesse confirmar que estas previsões são verdadeiras, isso seria muito interessante e certamente atrairia diversas pessoas para observá-las mais de perto", considera Hossenfelder.
Mas a teoria só foi publicada há um ano — e derrubar décadas de consenso científico baseados nos estudos encabeçados por Einstein não será fácil.
Hossenfelder é cética sobre a nova teoria — algo que, na opinião dela, a coloca numa posição de "ganha-ganha".
A cientista ganha se estiver certa no ceticismo dela. Mas também ganha se estiver errada, porque isso significaria que ela — e todos nós — testemunhamos em vida o nascimento de uma nova revolução da Física.
*Com reportagem de Max Seitz.
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