Conecte-se Conosco

EDUCAÇÃO G1

Como preparar seu cérebro para uma prova

Cientistas dizem que novidades e histórias são ótimas estratégias para melhorar o processo de aprendizagem, enquanto sono e atividade física são cruciais para reduzir o estresse e reter informação. Os dias de prova geram nervosismo e ansiedade nos estudantes
Freepik
Neste domingo (3) e no próximo, 4,3 milhões de brasileiros farão a prova do Exame Nacional do Ensino Médio 2024 (Enem) para tentar garantir uma vaga no ensino superior.
🎓 📚 Preparar-se para as provas pode ser desafiador, e muitos adotam rotinas intensas de estudo, repassando conteúdos por horas a fio.
GABARITO EXTRAOFICIAL DO ENEM 2024 – (domingo, a partir das 18h30)
COBERTURA EM TEMPO REAL
🧠 Mas e se o segredo de uma boa revisão não for apenas mais horas de estudo, mas sim entender como o cérebro aprende e lembra das coisas?
Cada um aprende de um jeito
O neurocientista Bogdan Draganski, do Hospital Universitário Insel em Berna, na Suíça, diz que não existem truques rápidos ou “atalhos fáceis” para o sucesso escolar.
Segund..

Publicado

em


Cientistas dizem que novidades e histórias são ótimas estratégias para melhorar o processo de aprendizagem, enquanto sono e atividade física são cruciais para reduzir o estresse e reter informação. Os dias de prova geram nervosismo e ansiedade nos estudantes
Freepik
Neste domingo (3) e no próximo, 4,3 milhões de brasileiros farão a prova do Exame Nacional do Ensino Médio 2024 (Enem) para tentar garantir uma vaga no ensino superior.
🎓 📚 Preparar-se para as provas pode ser desafiador, e muitos adotam rotinas intensas de estudo, repassando conteúdos por horas a fio.
GABARITO EXTRAOFICIAL DO ENEM 2024 – (domingo, a partir das 18h30)
COBERTURA EM TEMPO REAL
🧠 Mas e se o segredo de uma boa revisão não for apenas mais horas de estudo, mas sim entender como o cérebro aprende e lembra das coisas?
Cada um aprende de um jeito
O neurocientista Bogdan Draganski, do Hospital Universitário Insel em Berna, na Suíça, diz que não existem truques rápidos ou "atalhos fáceis" para o sucesso escolar.
Segundo ele, aprender é um processo individual, onde as "diferenças individuais de motivação, atenção e cognição" de cada um fazem com que não exista uma forma única de aprender.
Sendo assim, o que diz a ciência sobre como otimizar o aprendizado para os exames?
cérebro
Unsplash
Como o cérebro aprende informações complexas
✍️ O cérebro armazena memórias como conexões entre os neurônios, particularmente nas regiões do hipocampo e da amígdala cerebral. A essas conexões dá-se o nome de sinapse.
Novas memórias são formadas quanto os neurônios criam novas sinapses com outros neurônios, gerando uma teia de conexões neuronais. Mas é preciso trabalhar na manutenção dessas memórias se quisermos acessá-las depois.
⚡ Só que a ciência ainda não sabe ao certo o que acontece no cérebro quando aprendemos informação que é mais complexa que uma única memória.
"Os mecanismos que regem a formação, consolidação e recuperação bem-sucedidas da memória episódica ainda são elusivos", afirma Draganski.
Isso porque, segundo ele, o aprendizado é um processo "tremendamente complexo" no cérebro, que depende de estímulos sensoriais, emoções, níveis de estresse, centros de processamento cognitivo e, claro, redes de memória.
"E tudo isso varia de indivíduo para indivíduo de acordo com o sexo, gênero e fatores socioeconômicos e ambientais", explica o neurocientista.
É por isso, frisa Draganski, que cabe a cada um encontrar seu próprio processo individual de aprendizagem – e, sim, ele pode ser diferente daquele que te foi inculcado na escola.
Criatividade não dá nota no Enem: por que a 'cartilha' da redação exige um texto bem 'específico' e 'limitado'
O poder das histórias
📝 Aprender e reter novas informações depende de dois processos principais: a codificação, quando as novas informações são inicialmente aprendidas, e a consolidação, quando essas informações são fortalecidas nas áreas de memória do cérebro.
Estudos sugerem que praticar a "recuperação ativa" – o ato de testar a si mesmo sobre o que aprendeu – melhora a retenção da memória em comparação com o estudo passivo, que inclui hábitos como a releitura de anotações.
Neurocientistas também apontam que nosso cérebro é programado para buscar novidades. Isso significa que você provavelmente lembrará melhor de informações novas e interessantes, enquanto ambientes previsíveis, como algumas salas de aula, podem te fazer se sentir desmotivado.
A atenção é crucial nesse processo de fixação do aprendizado. Por isso, é importante encontrar várias formas diferentes de aprender a mesma coisa – pode ser com vídeos educacionais, leitura, podcasts, memes e até mesmo desenhando ou cantando sobre o que você aprendeu.
Outra boa estratégia é inventar histórias sobre o que se aprendeu. Estudos mostram que o cérebro retém 50% mais informação de textos narrativos do que descritivos.
O fator estresse
A ciência também mostra que o estresse tem um grande impacto nos processos de aprendizado e formação de memórias.
Um pouco de estresse pode de fato melhorar a formação de memórias. Mas estresse demais vai te impedir de acessá-las e atualizá-las posteriormente com novas informações – e isso pode ser fatal no dia da prova.
Quando o estresse toma conta de você, ele inibe a capacidade do cérebro de codificar informações, tornando o processo de aprendizagem mais penoso e menos eficaz. Em casos extremos ele pode levar à ansiedade, que torna tudo ainda mais desafiador.
Dicas testadas pela ciência para um aprendizado mais eficaz
Draganski tem um conselho para adolescentes que querem aprender melhor: "Viva uma vida saudável." Por vida saudável, entenda-se: manter rotinas saudáveis de sono, alimentação e atividade física.
O sono, em particular, é crucial para o processo de aprendizagem e consolidação da memória. É durante o sono que o cérebro processa e organiza informações, fortalecendo as conexões neuronais que ajudarão a lembrar delas depois.
Já a falta de sono, além de aumentar os níveis de estresse, pode prejudicar a concentração e a memória.
Adolescentes precisam dormir entre oito e dez horas para manter o bom funcionamento cognitivo do cérebro, e Draganski aconselha os jovens a zelar por esse repouso, ainda que isso signifique "desafiar as autoridades escolares, caso a escola comece muito cedo".
Atividade física e redução dos níveis de estresse
Outra dica de Draganski é praticar atividades físicas com frequência, já que isso traz benefícios profundos para o funcionamento do cérebro, especialmente entre adolescentes.
Exercícios físicos ajudam a administrar o estresse, reduzindo os níveis de cortisol e liberando endorfinas, que promovem a sensação de bem-estar. Mesmo uma caminhada curta ou uma ginástica leve podem ajudar a aumentar o foco, reduzir a ansiedade e tornar a revisão de conteúdos escolares mais eficiente.
Draganski, porém, ressalta que o sucesso escolar na juventude também depende em alguma medida do apoio que se tem dentro de casa.
Meditação ou técnicas de respiração profunda podem ajudar a manter o estresse sob controle – tanto para lidar com as provas quanto com a família.
Conheça alimentos que ajudam na saúde do cérebro

Continue Lendo
Clique Para Comentar

Deixe uma Resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EDUCAÇÃO G1

Sisu 2025: inscrições começam 17 de janeiro; veja cronograma

Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham ..

Publicado

em


Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham feito o Enem 2024 e tirado nota acima de zero na redação. Treineiros não serão aceitos.
➡️Poderei escolher em qual semestre vou entrar na faculdade? Não. Caberá à universidade, por meio da ordem da lista de classificação de candidatos, selecionar quem estudará em cada semestre. A classificação é determinada pelo desempenho de cada participante no Enem 2024.
➡️O programa possui cotas? Sim, e funciona da seguinte maneira:
Todos os candidatos concorrerão, primeiramente, às vagas de ampla concorrência.
Caso não alcancem as notas nesta modalidade e façam parte de algum dos grupos de cotas (os critérios são de raça e de renda), aí, sim, entrarão na disputa pelo benefício.
Com isso, se uma pessoa autodeclarada preta, por exemplo, tirar uma nota mais alta que a exigida na ampla concorrência, será aprovada na "lista geral" e não tirará a vaga de um cotista com desempenho mais baixo.
➡️Qual o cronograma?
Inscrições: 17 a 21 de janeiro
Resultados da 1° chamada: 26 de janeiro
Matrículas: 27 a 31 de janeiro
Manifestação de interesse na lista de espera: 26 a 31 de janeiro
5 cuidados para tomar ao se inscrever no Sisu

Continue Lendo

EDUCAÇÃO G1

Bombou no g1: questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova; relembre

Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
“Isso é conteúdo de faculdade!”, “Como você quer que eu saiba?” e “Cadê o resto [da questão]?”. Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia qu..

Publicado

em


Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
"Isso é conteúdo de faculdade!", "Como você quer que eu saiba?" e "Cadê o resto [da questão]?". Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia que os estudantes calculassem a média no boletim de uma pessoa, sem que nenhuma nota fosse divulgada no enunciado. A única informação disponível era a seguinte: quando o "personagem" fez a conta, dividiu o total por 5, e não por 4. E, com isso, chegou a um resultado que era uma unidade menor do que o correto.
Segundo professores de quatro cursinhos ouvidos pelo g1 (Anglo, pH, Poliedro e Professor Ferretto), essa questão não estava entre as 10 mais difíceis da prova. O que provavelmente desestabilizou os candidatos foi a aparente (e ilusória) falta de dados.
Abaixo, veja a resolução feita por Rodrigo Serra, professor de matemática do Colégio Oficina do Estudante:
Questão sobre média de notas viraliza nas redes: 'cadê o resto da pergunta?'
🖊️ Resposta: B.

Continue Lendo

EDUCAÇÃO G1

A radical teoria pós-quântica, que tenta responder o que Einstein não conseguiu

A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
“Uma nova moda surgiu na Física”, queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa “moda” era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
“Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física”, chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons,..

Publicado

em


A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
"Uma nova moda surgiu na Física", queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa "moda" era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
"Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física", chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons, glúons e quarks que constituem os átomos.
💡Por sua vez, a relatividade geral, que é a moderna teoria da gravidade, provou ser a melhor descrição de tudo o que acontece em grande escala, desde o funcionamento do Sistema Solar e dos buracos negros até a origem do universo.
No entanto, elas permanecem contraditórias entre si. Ou seja, as regras da relatividade geral funcionam perfeitamente para as galáxias, bem como para tudo o que nos rodeia e é visível: uma árvore, um gato, uma pérola…
Porém, assim que analisamos o comportamento de algo tão pequeno como um átomo, tudo muda.
Os pesquisadores não conseguem nem usar a mesma Matemática para explicar uma teoria e outra.
De alguma forma, a natureza consegue fazer com que os dois sistemas coexistam — mas a Ciência ainda não fez o mesmo.
Para muitos, esta incompatibilidade é a maior questão sem resposta da Física.
Einstein e milhares de outros pesquisadores em todo o mundo procuraram criar uma teoria que unisse a física quântica e a relatividade geral.
É o que muitos chamam de "teoria de tudo", um nome tão atraente que virou título do premiado filme biográfico de Stephen Hawking, um dos renomados cientistas que tentaram — também sem sucesso — encontrar o "Santo Graal" da Física.
Agora, uma nova teoria propõe uma virada radical nesta charada secular.
Seu nome, porém, é menos mercadológico: ela é chamada de teoria pós-quântica da gravidade clássica e é liderada pelo físico Jonathan Oppenheim, do Instituto de Ciência e Tecnologia Quântica da Universidade College London (UCL), no Reino Unido.
Trata-se de algo tão revolucionário que mesmo alguns dos seus detratores reconhecem que essa é a primeira abordagem verdadeiramente original a surgir em pelo menos uma década.
Há mais de 100 anos vivemos num universo cujas bases foram estudadas e definidas por Einstein
Getty Images/via BBC
A quarta força fundamental
Embora possa parecer contraditório, um dos aspectos mais inovadores da teoria de Oppenheim é o termo "clássico" em seu nome.
Até agora, a abordagem predominante para resolver a incompatibilidade entre a física quântica e a relatividade geral envolve modificar o último sistema para ajustá-lo ao primeiro.
É o que os físicos chamam de "quantização", porque no final ela se converte numa teoria quântica.
"Quantizar" a relatividade geral faz ainda mais sentido se pensarmos que é algo que os cientistas já conseguiram fazer com as outras três forças fundamentais que governam o universo: a força nuclear fraca, a força nuclear forte e a força eletromagnética.
Mas eles simplesmente não conseguiram fazer o mesmo com a gravidade — e não foi por falta de tentativa.
"É um problema matemático muito difícil", contextualiza Oppenheim à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Mas também é conceitualmente complicado, porque essas duas teorias têm diferenças tão fundamentais que é muito difícil conciliá-las."
Ele explica: "Quase todas as tentativas assumiram que devemos 'quantizar' a gravidade. A minha sensação sobre a razão pela qual essa tarefa tem sido tão difícil é que talvez não seja possível e que apontamos para a coisa errada."
Por isso, o pesquisador e a equipe dele decidiram mudar o foco e "modificar um pouco, ou muito, a teoria quântica, para que esses dois sistemas possam se encaixar".
Na nova teoria, publicada em dezembro de 2023 nas revistas Nature Communications e Physical Review X, a relatividade geral continua a ser uma teoria não quântica, ou clássica.
A física Sabine Hossenfelder, do Centro de Filosofia Matemática de Munique, na Alemanha, que não fez parte da pesquisa da UCL, diz à BBC News Mundo que a ideia de Oppenheim "é muito legal".
"É muito raro neste campo ver nascer uma nova ideia", observa a especialista.
Hossenfelder fez parte de um comitê que revisou a teoria há seis anos e, embora a achasse interessante, considerou que ela era "muito especulativa, imatura e vaga".
"Tinha tantas pontas soltas que parecia que poderia falhar completamente, por isso fiquei muito impressionada quando vi o que saiu vários anos depois, porque abordava quase todos esses pontos levantados", diz ela, que esclarece com um sorriso "sempre ter algo a comentar e a observar".
Dois conceitos básicos e um 'inaceitável'
O tecido (quadriculado branco na ilustração), que representa o espaço-tempo, deformado por uma bola (em amarelo), que faz alusão a uma estrela como o Sol
BBC
Uma bola de menor massa (em verde) acompanha a curvatura do tecido quadriculado causada pela maior (em amarelo), como acontece com a Terra em relação ao Sol
BBC
Antes de seguir a explicação sobre a teoria de Oppenheim, é importante compreender o conceito básico da relatividade geral e uma das características da física quântica que mais perturbou Einstein.
O que Einstein fez para revolucionar a Ciência em 1915 foi definir a gravidade como "uma deformação do espaço-tempo".
A maneira mais fácil de compreender esse conceito é pensar em um trampolim onde colocamos uma bola pesada — por exemplo, uma bola de bilhar.
Quando uma coisa dessas acontece, o tecido afunda no local onde a bola está.
Agora, imagine jogar nesse mesmo trampolim uma bola mais leve (uma bola de gude), e tentar fazê-la girar na borda da curvatura do tecido relacionada ao peso da bola mais pesada.
O que acontece é que a bola de gude vai se mover em círculos cada vez menores, aproximando-se da bola de bilhar.
Segundo a teoria da relatividade geral, isso não acontece porque a bola de bilhar exerce sobre a bola de gude uma força de atração invisível, mas porque o formato do tecido — ou melhor, a sua deformação — a obriga a fazer essa curvatura.
Na teoria de Einstein, o espaço-tempo faz a mesma coisa de forma quadridimensional — de modo que a Terra gire em torno do Sol, por exemplo.
Oppenheim explica que, na teoria pós-quântica da gravidade clássica "o espaço-tempo se mantém como aquele tecido em que vivem as partículas quânticas, tal como Einstein concebeu".
O que muda é que o espaço-tempo incorpora o acaso da física quântica, característica que deu origem a uma das frases mais famosas de Einstein: "Deus não joga dados."
Einstein acreditava que faltava informação na "moda" da física quântica, mas o que décadas de estudos têm mostrado é que a aleatoriedade não se deve a um erro na teoria ou a uma falha nas medições, mas a uma característica inerente ao comportamento das partículas fundamentais.
Oppenheim e sua equipe unem a física quântica e a relatividade geral, tornando o espaço-tempo também inerentemente aleatório.
"Ainda temos essa aleatoriedade na teoria quântica, mas ela é mediada pelo próprio espaço-tempo", explica o físico.
Em outras palavras, o próprio tecido começa a apresentar oscilações aleatórias.
Isto é algo "inaceitável" para muitos dos seus colegas — e é provável que Einstein também pensasse o mesmo.
"A estrutura aleatória do espaço-tempo é o que, em certo sentido, lança os dados na teoria quântica", compara Oppenheim, parafraseando Einstein.
'Ganha-ganha'
"Cada vez que você propõe uma nova teoria, é preciso fazer uma série de verificações para ver se ela é consistente com as observações", explica Oppenheim.
"E é emocionante que esta teoria faz previsões que podem ser testadas experimentalmente."
"Ao levar em conta que esta teoria exige que o espaço-tempo tenha flutuações, podemos busca-las", acrescenta ele.
Para isso, os pesquisadores propõem medir o peso de uma massa com extrema precisão e verificar se ela é constante ou se apresenta certas oscilações.
Por exemplo, o Escritório Internacional de Pesos e Medidas, localizado na França, pesa rotineiramente um objeto que foi usado para criar o padrão mundial do que é hoje considerado exatamente um quilo.
Ao utilizar novas tecnologias de medição quântica, de acordo com a teoria pós-quântica da gravidade clássica, o peso do referido objeto deixaria de ser um quilo e se tornaria imprevisível.
"Se encontrarmos as flutuações, provaremos que a teoria é verdadeira e, se não as encontrarmos, conseguiremos refutá-la", diz Oppenheim.
"Isso é particularmente emocionante", confessa ele.
Mas há ainda mais coisas a descobrir.
Oppenheim entende que a nova teoria poderia responder a outra das grandes incógnitas da Física moderna: o que são a matéria escura e a energia escura.
Para entender a importância disso, é primeiro antes saber o que esses conceitos são (e não são).
Todos os planetas, estrelas e objetos cósmicos visíveis são feitos da chamada matéria normal. Juntos, eles representam cerca de 5% do universo.
Os 95% restantes ainda são um mistério — e por isso são chamados de matéria escura e energia escura.
Se nos estudos para verificar a nova teoria, as flutuações forem suficientemente intensas, elas "seriam candidatas muito fortes para o que pensamos ser matéria escura e energia escura", segundo Oppenheim.
"Isso explicaria 95% da evolução do Universo, o que representaria um grande impacto", complementa o pesquisador.
Por sua vez, Hossenfelder destaca que a equipe da UCL desenvolveu uma Matemática completamente nova para esta teoria e afirma que a mera existência desses trabalhos pode ser útil para outros fins.
Em suma, a história da Ciência está repleta de pesquisas que tiveram aplicações inesperadas.
O próprio Einstein, aliás, acendeu a centelha que levou à física quântica — a qual ele renunciou até o fim da vida.
"Se houvesse algo que pudesse confirmar que estas previsões são verdadeiras, isso seria muito interessante e certamente atrairia diversas pessoas para observá-las mais de perto", considera Hossenfelder.
Mas a teoria só foi publicada há um ano — e derrubar décadas de consenso científico baseados nos estudos encabeçados por Einstein não será fácil.
Hossenfelder é cética sobre a nova teoria — algo que, na opinião dela, a coloca numa posição de "ganha-ganha".
A cientista ganha se estiver certa no ceticismo dela. Mas também ganha se estiver errada, porque isso significaria que ela — e todos nós — testemunhamos em vida o nascimento de uma nova revolução da Física.
*Com reportagem de Max Seitz.
Vídeos

Continue Lendo

PUBLICIDADE

SAIBA MAIS

Loterias

Trending

BILLNETWORK TI - RAMIRES - TERESINA PI