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Europa acerta embargo parcial do petróleo russo, com Ucrânia sob pressão

IGOR GIELOW (FOLHAPRESS) – Quase um mês após prometer vetar toda a compra de petróleo da Rússia, a União Europeia parece ter chegado a um acordo para implantar um embargo parcial de importação do produto como punição a Moscou pela invasão da Ucrânia.

A decisão foi anunciada no fim da noite desta segunda (30, começo da noite em Brasília) em um cenário de intensa pressão militar russa no leste ucraniano. A expectativa levou o preço do barril de petróleo para a casa dos US$ 120, valor que poderá subir e pressionar ainda mais os líderes europeus, que já enfrentam o impacto inflacionário da crise.

Se confirmado, é uma boa notícia para Kiev, que passou as últimas semanas criticando o que vê como leniência de governos europeus com Putin e, nesta segunda, havia recebido má notícia até de seu maior apoiador, os Estados Unidos: o governo de Joe Biden vetou a entrega de lançadores de mísseis de longo alcance ao país.

Segundo disse no Twitter o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Mi..

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IGOR GIELOW (FOLHAPRESS) – Quase um mês após prometer vetar toda a compra de petróleo da Rússia, a União Europeia parece ter chegado a um acordo para implantar um embargo parcial de importação do produto como punição a Moscou pela invasão da Ucrânia.

A decisão foi anunciada no fim da noite desta segunda (30, começo da noite em Brasília) em um cenário de intensa pressão militar russa no leste ucraniano. A expectativa levou o preço do barril de petróleo para a casa dos US$ 120, valor que poderá subir e pressionar ainda mais os líderes europeus, que já enfrentam o impacto inflacionário da crise.

Se confirmado, é uma boa notícia para Kiev, que passou as últimas semanas criticando o que vê como leniência de governos europeus com Putin e, nesta segunda, havia recebido má notícia até de seu maior apoiador, os Estados Unidos: o governo de Joe Biden vetou a entrega de lançadores de mísseis de longo alcance ao país.

Segundo disse no Twitter o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, o plano de cortar até dois terços da compra de petróleo russo pelos 27 países da UE (União Europeia) até o fim deste ano deverá ser aprovado.

"A Europa deve mostrar força. Todas as brigas na Europa devem acabar, são disputas internas que apenas incentivam a Rússia a colocar mais pressão sobre vocês", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em vídeo gravado para uma sessão do Conselho Europeu.

Em 4 de maio, em mais uma rodada de sanções contra a invasão, a Europa havia prometido banir o petróleo russo -que responde por 27% de sua importação do produto, enquanto o gás natural chega a 40%, caracterizando a dependência energética do continente ante Putin.

A Comissão Europeia, órgão executivo da UE, calculou em abril que Vladimir Putin recebia cerca de € 1 bilhão por dia vendendo hidrocarbonetos para o continente.

A solução dos dois terços visa a agradar principalmente a Hungria de Viktor Orbán. Segundo um rascunho de acordo, a saída que também atendia tchecos e eslovacos veta as compras por meio de petroleiros, deixando os oleodutos que abastecem esses países. Orbán, ao chegar a Bruxelas, disse que o acordo seria aceitável, mas voltou a dizer que vetar petróleo russo é "uma bomba atômica para nossa economia".

A reunião de líderes europeus em Bruxelas, que segue nesta terça, deverá delinear a firmeza do acordo e seus detalhes -onde costumam morar problemas potenciais. A insatisfação das populações com o impacto das sanções à Rússia nos preços de energia e alimentos é um fator central no processo decisório europeu.

O grupo deverá chancelar um pacote novo de empréstimos de até € 9 bilhões (R$ 46 bilhões) para Kiev.

Os alemães, alvo principal de Kiev na acusação de leniência com a guerra de Vladimir Putin devido à sua dependência do gás comprado da Rússia, apoiam a salomônica. "Haverá um acordo", disse o premiê Olaf Scholz. São autoridades da maior economia europeia as principais realistas do processo.

A ministra das Relações Exteriores Annalena Baerbock já apontou o "momento de fadiga" no Ocidente com a guerra, apesar de todos manterem o apoio à Ucrânia, sob ataque há três meses.

Além dos germânicos, franceses também são vistos como apoiadores indiretos de Putin: o presidente Emmanuel Macron afirmou na semana passada que a entrada da Ucrânia na UE seria um processo de décadas, se tanto. Isso aumentou o azedume entre ucranianos e ocidentais.

Em Kiev, o chanceler Dmitro Kuleba, reclamou disso após receber a colega francesa Catherine Colonna. "Precisamos de uma afirmação legal de que a Ucrânia é parte do projeto de integração europeia", disse, cobrando algum programa especial de adesão.

Uma das razões russas para a guerra era manter a Ucrânia militarmente neutra, como um tampão entre a Otan, a aliança militar ocidental, e o território de Moscou. Só que, ao longo do conflito, a eventual adesão à UE também foi colocada pelo Kremlin como inaceitável.

Há o componente político e militar, claro, mas também o temor de que a Ucrânia fosse transformada numa vitrine eslava da UE, ao estilo da Berlim Ocidental na Guerra Fria, sugerindo uma prosperidade e democracia que poderiam inspirar opositores do regime de Putin.

A segunda-feira trouxe más notícias para Zelenski vindas de Washington, capital onde os tambores da guerra ressoam mais fortes em favor dos ucranianos. Após relatos emergirem de que os EUA poderiam aprovar o envio de sistemas de lançadores múltiplos de foguetes de longo alcance para os ucranianos, Biden afirmou que isso não ocorrerá.

"Nós não vamos mandar para a Ucrânia sistemas de foguetes que possam atingir a Rússia", afirmou Biden a repórteres na Casa Branca, ecoando seu discurso de querer evitar um choque entre Otan e russos, que poderia acabar numa Terceira Guerra Mundial. Lançadores múltiplos de mísseis estão na mesa, mas apenas com alcance inferior -há modelos americanos que chegam a atingir alvos a 300 km.

Também nesta segunda, a região russa de Kursk, vizinha da Ucrânia, anunciou que iria receber reforço para lidar com a eventualidade de o conflito transbordar na forma de ataques pontuais. A fala de Biden foi elogiada pelo ex-líder russo Dmitri Medevedev, hoje um linha-dura no Conselho de Segurança do país.

Seu chefe, Putin, que teve novamente problemas de saúde especulados na imprensa ocidental negados pelo chanceler Serguei Lavrov, por sua vez tocou uma diplomacia direta com o membro mais arisco da Otan, a Turquia.

Numa conversa com presidente Recep Tayyip Erdogan, que apoia Kiev mas se mantém próximo de Moscou, Putin delineou um plano para retirar minas marítimas do mar Negro e permitir um corredor de escoamento de grãos ucranianos para o mundo. Hoje, há temor de fome em pontos da África porque há mais de 20 milhões de toneladas de trigo e milho represadas pela guerra.

A proposta russa já havia sido recusada na semana passada por Kiev, porque na prática submeteria sua exportação aos desígnos do Kremlin e também pelo fato de que Putin queria a suspensão de algumas das sanções a que seu país está submetido em troca do arranjo.

A conversa com Erdogan mostra que o assunto não está encerrado, e Putin já havia falado no sábado sobre o tema com Scholz e Macron, numa renovação de canais diplomáticos. De quebra, o turco é quem está prometendo vetar a entrada da Finlândia e da Suécia na Otan, um subproduto importante da guerra.

Tudo isso ocorre enquanto as forças russas acentuam seus ataques no Donbass, o leste do país. A cercada e destruída cidade de Severodonestk, cuja queda completaria a conquista da província de Lugansk por Moscou, registrou combates nas ruas. Lavrov afirmou a uma rede francesa que manter independente todo o Donbass, composto pela província e pela vizinha Donetsk, é a "prioridade absoluta" do Kremlin -ele não comentou, contudo, sobre o fracasso da ofensiva inicial da guerra em tomar Kiev.

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