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Guerra na Ucrânia põe em risco milhares de pessoas com doenças crônicas

ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A guerra na Ucrânia, que completou dois meses no último domingo (24), pode colocar em risco a vida de milhares de pessoas em tratamento contra doenças crônicas no país.

O alerta foi feito, de maneira independente, pela Unaids (programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids), pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e por cientistas de diferentes instituições. Os textos foram publicados recentemente em artigos nas revistas The Lancet e The Lancet HIV e em um relatório da OMS.

Com o avanço das tropas russas em cidades ainda ocupadas por civis e a não resolução do conflito, os especialistas afirmam que o acesso a medicamentos, serviços de saúde e até mesmo a escassez de profissionais como médicos podem prejudicar esses pacientes a curto, médio e longo prazos.

Isso porque, no caso de muitas doenças crônicas, como câncer, doenças cardiovasculares e doenças autoimunes, a interrupção mesmo que temporária do tratamento pode trazer consequências na perspec..

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ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A guerra na Ucrânia, que completou dois meses no último domingo (24), pode colocar em risco a vida de milhares de pessoas em tratamento contra doenças crônicas no país.

O alerta foi feito, de maneira independente, pela Unaids (programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids), pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e por cientistas de diferentes instituições. Os textos foram publicados recentemente em artigos nas revistas The Lancet e The Lancet HIV e em um relatório da OMS.

Com o avanço das tropas russas em cidades ainda ocupadas por civis e a não resolução do conflito, os especialistas afirmam que o acesso a medicamentos, serviços de saúde e até mesmo a escassez de profissionais como médicos podem prejudicar esses pacientes a curto, médio e longo prazos.

Isso porque, no caso de muitas doenças crônicas, como câncer, doenças cardiovasculares e doenças autoimunes, a interrupção mesmo que temporária do tratamento pode trazer consequências na perspectiva de melhora ou cura no futuro.

O primeiro alerta da Unaids, ainda em março, chamava a atenção para o fato de que a Ucrânia é o país europeu com o maior número de pessoas vivendo com HIV. São cerca de 250 mil convivendo com o vírus –desses, 146 mil fazem uso de medicamentos antirretrovirais.

Apesar do número elevado de pessoas com HIV, a Ucrânia possui um histórico de sucesso na redução das taxas de novas infecções por ano, de cerca de 21% desde 2010.

Isso se deu, em parte, por uma política pública de conscientização sobre o problema da troca de agulhas e uma campanha de uso dos chamados antagonistas de opióides (OAT, na sigla em inglês), remédios que ajudam dependentes químicos a reduzir o uso de substâncias como heroína.

De acordo com o texto publicado na The Lancet HIV, ainda em 2018, com o conflito entre as forças russas e os separatistas nas regiões de Luhansk e Donetsk, as políticas favoráveis para redução de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis, antes chamadas de doenças sexualmente transmissíveis ou DSTs) foram afetadas principalmente pelo fechamento de serviços de atendimento à população.

"Os serviços foram interrompidos na área [na ocasião], e isso serve como uma alerta para a saúde e o bem-estar das pessoas vivendo com HIV caso um regime de apoio à Rússia se instale na Ucrânia", diz o artigo.

Ainda segundo o artigo, a anexação da Crimeia, em 2014, fez com que a chegada de terapias para dependência química não ocorresse mais na área, pois as autoridades russas consideravam-na ilegal.

Mas não são apenas as pessoas convivendo com HIV que estão em risco. Um levantamento feito pela OMS apontou que 1 em cada 3 das pessoas que possuem alguma doença crônica na Ucrânia não estão recebendo adequadamente o tratamento para suas condições de saúde.

A pesquisa, que ainda está em andamento, reuniu informações de cerca de mil residências até o momento, das quais 2 em cada 5 (39%) afirmaram ter pessoas com problemas crônicos de saúde, como diabetes, doenças cardiovasculares ou câncer.

Dessas, um terço não acessou serviços de saúde recentemente. Os principais motivos apontados foram a falta de segurança (39%) e a ausência de serviços de saúde na região (27%).

De acordo com Jarno Habicht, representante da OMS na região e presidente do escritório ucraniano da entidade, é "urgente continuar o apoio aos serviços de saúde ucranianos".

Até o momento, a ONU e a OMS conseguiram um acordo para não parar o fornecimento de medicamentos, kits de primeiros socorros e itens de primeira necessidade no país. Porém, com o prolongamento da guerra, o futuro é incerto.

A entidade já destinou mais de 218 toneladas de suplementos médicos para a Ucrânia, dos quais 65% (ou 142 toneladas) chegaram ao país. Os medicamentos para tratamento enviados são suficientes para atender cerca de 7,5 milhões de pessoas.

Além disso, o órgão continua enviando profissionais de saúde, testes de Covid e afirma que tem ajudado também em cirurgias e atendimento médico contra traumas, mas o "risco de doenças infecciosas, junto com o aumento de doenças associadas à falta de saneamento e a redução nas campanhas de imunização de rotina, devido à guerra, preocupa".

Além dos impactos diretos nos serviços de saúde, a ocupação russa no território pode afetar ainda o desenvolvimento de novas terapias e tecnologias, como drogas e IFAs (ingredientes farmacêuticos ativos, matéria-prima para produção de remédios).

No Brasil, os medicamentos tiveram alta de preço devido à dificuldade em acessar alguns dos IFAs produzidos no continente europeu que, com o conflito, acaba filtrando as exportações para poder atender à demanda local.

A gigante farmacêutica Roche disse que a invasão russa na Ucrânia pode encerrar o desenvolvimento de uma droga inovadora contra a esclerose múltipla, uma condição autoimune em que o sistema nervoso ataca a estrutura que recobre os nervos –conhecida como bainha de mielina–, causando comprometimento das funções motora e nervosa.

A empresa suíça disse, em nota na última segunda (25), que de 20% a 30% dos candidatos em um ensaio clínico para testar o fenebrutinibe como medicamento para tratar pacientes na fase inicial da doença eram da Rússia e da Ucrânia. O medicamento é um bloqueador de quinase, um tipo de molécula que afeta a resposta imunológica.

O conflito na região fez com que os braços de estudo nesses países fossem interrompidos, o que prejudica os estudos clínicos, destacou a companhia.

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