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EDUCAÇÃO G1

O que é ‘woke’ e por que o termo gera uma batalha cultural e política nos EUA

Ser ou ser 'woke' é considerado um distintivo de honra para grande parte da população americana, e um insulto para a outra.
GETTY IMAGES via BBC
“Acordei.”
Este é o significado literal da palavra woke, passado do verbo wake, que significa “acordar, despertar”.
Mas, recentemente, o termo ganhou significados bem mais amplos. Na gíria norte-americana, ser ou estar woke pode indicar com quais posturas políticas você se mais se identifica.
O uso de woke surgiu na comunidade afro-americana. Originalmente, ele queria dizer “estar alerta para a injustiça racial”.
“Muitas pessoas acreditam que quem o cunhou foi (o romancista) William Melvin Kelley (1937-2017)”, afirma Elijah Watson, editor de notícias e cultura do website de música norte-americana Okayplayer e autor de uma série de artigos sobre a origem do termo woke.
Em 1962, Kelley publicou um artigo no jornal The New York Times com o título If You're Woke, You Dig it (“Se você estiver acordado, entenderá”, em tradução livre)..

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Ser ou ser 'woke' é considerado um distintivo de honra para grande parte da população americana, e um insulto para a outra.
GETTY IMAGES via BBC
"Acordei."
Este é o significado literal da palavra woke, passado do verbo wake, que significa "acordar, despertar".
Mas, recentemente, o termo ganhou significados bem mais amplos. Na gíria norte-americana, ser ou estar woke pode indicar com quais posturas políticas você se mais se identifica.
O uso de woke surgiu na comunidade afro-americana. Originalmente, ele queria dizer "estar alerta para a injustiça racial".
"Muitas pessoas acreditam que quem o cunhou foi (o romancista) William Melvin Kelley (1937-2017)", afirma Elijah Watson, editor de notícias e cultura do website de música norte-americana Okayplayer e autor de uma série de artigos sobre a origem do termo woke.
Em 1962, Kelley publicou um artigo no jornal The New York Times com o título If You're Woke, You Dig it ("Se você estiver acordado, entenderá", em tradução livre), segundo Watson.
O termo ressurgiu na última década com o movimento Black Lives Matter, criado para denunciar a brutalidade policial contra as pessoas afrodescendentes. Mas, desta vez, seu uso se espalhou para além da comunidade negra e passou a ser empregado com significado mais amplo.
Até que, em 2017, o dicionário inglês Oxford acrescentou este novo significado de woke, definido como: "estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo".
Parece algo positivo, certo? Mas isso depende da pessoa a quem se faz essa pergunta.
O direito ao voto é uma das causas emblemáticas dos ativistas woke.
GETTY IMAGES via BBC
Assim como algumas pessoas se autodefinem com muito orgulho como alguém woke, ou atento contra a discriminação e a injustiça, outros utilizam o termo como insulto.
O próprio dicionário Oxford faz esta distinção. Após a definição, ele acrescenta: "esta palavra é frequentemente empregada com desaprovação por pessoas que pensam que outros se incomodam muito facilmente com estes assuntos, ou falam demais sobre eles, sem promover nenhuma mudança".
Segundo o dicionário americano Merriam-Webster, o termo é usado com desaprovação para referir-se a alguém politicamente liberal (em temas como justiça racial e social), especialmente de forma considerada insensata ou extremista.
Ou seja, para algumas pessoas, ser woke é ter consciência social e racial, questionando paradigmas e normas opressores historicamente impostos pela sociedade. Já para outros, o termo descreve hipócritas que acreditam que são moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas sobre os demais.
Os críticos da cultura woke questionam principalmente os métodos coercitivos adotados por pessoas que eles acusam ser "policiais da linguagem" — sobretudo em expressões e ideias consideradas misóginas, homofóbicas ou racistas.
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Um método que vem gerando muito mal estar é o "cancelamento": o boicote social e profissional, normalmente realizado por meio das redes sociais, contra indivíduos que cometeram ou disseram algo que, para eles, é intolerável.
Para as pessoas woke, trata-se de uma forma de protesto não violento que permite empoderar grupos historicamente marginalizados da sociedade e corrigir comportamentos, especialmente nos setores mais privilegiados que, até agora, eram parte do status quo e persistiam sem punição, nem mudança.
Mas os críticos afirmam que o cancelamento é a correção política levada ao extremo e que ele atenta contra a liberdade de expressão e "os valores tradicionais norte-americanos".
Batalha política
O ex-presidente americano Donald Trump é o maior crítico da cultura 'woke', que ele associa ao atual mandatário, Joe Biden.
Reuters
O que começou como um choque cultural foi se transformando em um enfrentamento político.
O termo woke tornou-se sinônimo de políticas liberais ou de esquerda, que defendem temas como igualdade racial e social, feminismo, o movimento LGBTQIA+, o uso de pronomes de gênero neutro, o multiculturalismo, a vacinação, o ativismo ecológico e o direito ao aborto.
São políticas associadas, nos Estados Unidos, ao Partido Democrata do presidente Joe Biden e à ala mais liberal, que inclui políticos americanos como os congressistas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez.
Por outro lado, a ala mais extrema do Partido Republicano, liderada pelo ex-presidente americano Donald Trump, acredita que essas políticas representam não só uma ameaça aos "valores da família", mas também à própria democracia, que se pretenderia "substituir por uma tirania woke".
Em 2020, um dos eixos centrais da campanha para a reeleição de Trump — na qual foi derrotado por Biden — foi combater os chamados woke lefties ("esquerdistas despertos") que, segundo ele, praticam o "fascismo da extrema esquerda".
O então presidente afirmou que a "cultura do cancelamento" estava "expulsando as pessoas dos seus trabalhos, envergonhando os dissidentes e exigindo a total submissão de qualquer pessoa que não esteja de acordo".
"É a própria definição de totalitarismo", acusou o líder republicano.
Trump, que vai enfrentar Biden nas urnas novamente em 2024, também falou na pré-campanha deste ano sobre os woke.
No fim de maio, ele criticou o governador da Flórida, o também republicano Ron DeSantis, por não conseguir evitar que a Disney se tornasse woke. No início de junho, disse em uma entrevista que quer expulsar generais e militares woke.
Trump falou sobre a 'cultura woke' na Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) de 2022.
GETTY IMAGES via BBC
Já para os democratas, o autoritário é Trump, algo que, segundo eles, ficou demonstrado quando ele se recusou a deixar o poder após sua derrota eleitoral e seus simpatizantes invadiram o Capitólio.
DeSantis, que chegou a concorrer nas primárias republicanas para a eleição presidencial de 2024 mas recuou, também tem sido um crítico vocal ao movimento woke.
Ele propôs no fim de 2021 uma lei chamada de Stop-Woke (algo com "Parem os woke"), que agora é alvo de uma disputa judicial. A lei, entre outras mudanças, regula como o conteúdo sobre raça e gênero pode ser apresentado nas escolas da Flórida.
Em vários discursos, o governador já afirmou que "woke é a nova religião da esquerda".
Neste contexto, alguns democratas — especialmente os mais moderados — alertaram que o chamado "wokeísmo" está prejudicando seu partido, fornecendo armas para que os republicanos os ataquem.
"O woke é um problema e todos (do Partido Democrata) sabem disso", afirmou o consultor político democrata James Carville, que liderou a vitoriosa campanha presidencial de Bill Clinton nos anos 1990, ao site Vox.
Para Carville, o problema são algumas das propostas mais extremistas que excluem os setores conservadores da sociedade e são usadas pelos trumpistas para assustar o eleitorado.
Como exemplo, ele mencionou a iniciativa para "retirar o financiamento da polícia" e usar esses fundos para programas de ajuda comunitária. Essa ideia surgiu após o assassinato de George Floyd em 2020 e procura pôr fim ao chamado "racismo sistêmico nas forças de segurança".
Embora muitos democratas, incluindo o presidente Biden, tenham se manifestado contra essa ideia, alguns a apoiaram, o que fez com que diversos candidatos republicanos associassem todo o partido à proposta, que é impopular entre grande parte da população.
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Obama e AOC
A cultura woke também já gerou críticas internas na liderança do Partido Democrata. E um dos seus detratores mais famosos e ativos é o ex-presidente Barack Obama.
Em 2019, às vésperas da escolha de Joe Biden como o candidato democrata para as eleições presidenciais do ano seguinte, Obama criticou que especialmente os mais jovens estivessem se concentrando em verificar o grau de wokeness de cada pessoa.
Ele se manifestou depois que diversos pré-candidatos democratas foram forçados a pedir desculpas em público por declarações feitas no passado.
O ex-presidente americano Barack Obama: 'Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe'.
EPA-EFE
"Tenho a sensação de que alguns jovens nas redes sociais acreditam que a forma de gerar mudanças é julgar as outras pessoas o máximo possível", afirmou o ex-presidente durante um encontro anual da Fundação Obama.
"Se eu posto um tuíte ou publico uma hashtag sobre como você não fez algo direito ou usou o verbo incorreto, posso sentar-me e me sentir muito bem comigo mesmo: 'Viu como fui woke? Peguei você!'", afirmou Obama.
"Chega! Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe", acrescentou ele.
"O mundo é desordenado. Existem ambiguidades. As pessoas que fazem coisas muito boas têm defeitos."
Mas uma das parlamentares mais jovens da Câmara dos Representantes, a carismática democrata Alexandria Ocasio-Cortez, saiu em defesa do "wokeísmo".
AOC, como é conhecida, destacou que, se o partido se sair mal nas próximas eleições, terá sido porque o Congresso não conseguiu aprovar leis sobre o direito ao voto, uma das causas emblemáticas dos ativistas woke.
Os democratas mais jovens, como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, são os que mais alimentam a chamada cultura 'woke'.
EPA
"Woke é um termo que os especialistas vêm usando como eufemismo pejorativo de direitos civis e justiça", publicou ela na sua conta no Twitter em novembro de 2021.
"Inventar um problema woke tem como resultado colocar em segundo plano os direitos civis e de voto", alerta AOC.
Em março de 2023, a parlamentar voltou a reclamar do uso político do termo pela oposição na Câmara.
"Estamos tendo uma sessão nesse momento, e ela é sobre o quê? Sobre o governo federal ser woke demais? Não há uma definição sobre o que é woke", afirmou, reclamando que projetos sobre trabalho remoto para funcionários federais e pessoas com deficiência estivessem sendo classificados como agenda woke.
'Capitalismo woke'
Os debates sobre o "wokeísmo" não dominam apenas a agenda política e cultural americana. Eles também ingressaram no mundo empresarial.
Algumas empresas passaram a ser atacadas ao adotarem mudanças que são interpretadas — para o bem ou para o mal — como woke.
Um caso conhecido é o da Gillette, que gerou polêmica em 2019 com uma publicidade chamada "o melhor que os homens podem ser", criticando comportamentos masculinos tóxicos, como o bullying, o assédio sexual e o sexismo.
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O anúncio foi aplaudido por muitos, mas também chegou a tornar-se um dos vídeos mais reprovados do YouTube, provocando um boicote contra a fabricante de lâminas de barbear.
O golpe econômico sofrido pela dona da empresa, a Procter & Gamble, levou à criação de um meme que se popularizou entre a direita: "Get woke, go broke" ("vire woke, vá à falência").
Nos últimos tempos, a empresa que recebeu mais elogios e críticas por ser considerada woke é a Disney, como mostra a declaração recente de Trump.
Em abril de 2022, o governador DeSantis assinou uma lei para retirar o status legal especial da Walt Disney Company, que retira o status especial da empresa no Estado da Flórida.
E legisladores republicanos ameaçaram não prorrogar os direitos autorais da Disney sobre o seu principal personagem, Mickey, que vence em 2024.
Tudo isso se deu em represália à oposição dos executivos da empresa a uma lei que proíbe aulas sobre sexualidade, orientação sexual e diversidade de gênero nas escolas primárias da Flórida, apelidada pelos críticos de lei "Não Diga Gay".
Pressionada pelos funcionários que protestaram e deflagraram greve frente ao silêncio inicial da empresa, a Disney publicou um comunicado contrário a essa norma.
"Nossos funcionários veem o poder desta grande empresa como uma oportunidade de fazer o bem. Estou de acordo", disse, na época, o diretor-executivo (CEO) da Disney, Bob Chapek.
A empresa também foi acusada por alguns setores conservadores de "fazer ativismo woke", quando escolheu uma atriz negra como protagonista da nova versão do clássico A Pequena Sereia.
No desenho original, a personagem Ariel (baseada no conto de fadas de Hans Christian Andersen) é retratada como uma sereia de pele branca e olhos azuis (Ariel é ruiva nas duas versões).
Por outro lado, a escolha de uma atriz de pele escura foi elogiada por muitas vozes que não só se sentiram representadas, mas também consideram que, como as sereias são personagens mitológicos, elas podem ter qualquer cor de pele.
DeSantis e outros republicanos também criticaram as empresas que priorizam os investimentos com impacto ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês), classificando-as como "capitalismo woke".
A Disney é uma das principais empresas acusadas de ser woke.
GETTY IMAGES via BBC
Em julho de 2022, o governador da Flórida afirmou que os investimentos ESG — que costumam priorizar temas como mudanças climáticas ou a diversidade — "ameaçam a vitalidade da economia norte-americana e a liberdade econômica dos americanos, ao indicar indivíduos e indústrias desfavorecidas para promover uma agenda ideológica woke".
Segundo o site MarketWatch, se os republicanos assumirem o controle do Congresso nestas eleições, "é provável que eles combatam o capitalismo woke".
"Os investidores devem esperar desaprovação significativa dos republicanos contra as políticas ESG, tanto as determinadas pelos órgãos governamentais de controle, quanto as impostas pelo próprio setor privado", adverte o analista Brian Gardner, da consultoria financeira americana Stifel.
*Esta reportagem foi publicada originalmente em 8 de novembro de 2022 e republicada em junho de 2024 com atualizações.
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Sisu 2025: inscrições começam 17 de janeiro; veja cronograma

Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham ..

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Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham feito o Enem 2024 e tirado nota acima de zero na redação. Treineiros não serão aceitos.
➡️Poderei escolher em qual semestre vou entrar na faculdade? Não. Caberá à universidade, por meio da ordem da lista de classificação de candidatos, selecionar quem estudará em cada semestre. A classificação é determinada pelo desempenho de cada participante no Enem 2024.
➡️O programa possui cotas? Sim, e funciona da seguinte maneira:
Todos os candidatos concorrerão, primeiramente, às vagas de ampla concorrência.
Caso não alcancem as notas nesta modalidade e façam parte de algum dos grupos de cotas (os critérios são de raça e de renda), aí, sim, entrarão na disputa pelo benefício.
Com isso, se uma pessoa autodeclarada preta, por exemplo, tirar uma nota mais alta que a exigida na ampla concorrência, será aprovada na "lista geral" e não tirará a vaga de um cotista com desempenho mais baixo.
➡️Qual o cronograma?
Inscrições: 17 a 21 de janeiro
Resultados da 1° chamada: 26 de janeiro
Matrículas: 27 a 31 de janeiro
Manifestação de interesse na lista de espera: 26 a 31 de janeiro
5 cuidados para tomar ao se inscrever no Sisu

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Bombou no g1: questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova; relembre

Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
“Isso é conteúdo de faculdade!”, “Como você quer que eu saiba?” e “Cadê o resto [da questão]?”. Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia qu..

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Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
"Isso é conteúdo de faculdade!", "Como você quer que eu saiba?" e "Cadê o resto [da questão]?". Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia que os estudantes calculassem a média no boletim de uma pessoa, sem que nenhuma nota fosse divulgada no enunciado. A única informação disponível era a seguinte: quando o "personagem" fez a conta, dividiu o total por 5, e não por 4. E, com isso, chegou a um resultado que era uma unidade menor do que o correto.
Segundo professores de quatro cursinhos ouvidos pelo g1 (Anglo, pH, Poliedro e Professor Ferretto), essa questão não estava entre as 10 mais difíceis da prova. O que provavelmente desestabilizou os candidatos foi a aparente (e ilusória) falta de dados.
Abaixo, veja a resolução feita por Rodrigo Serra, professor de matemática do Colégio Oficina do Estudante:
Questão sobre média de notas viraliza nas redes: 'cadê o resto da pergunta?'
🖊️ Resposta: B.

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A radical teoria pós-quântica, que tenta responder o que Einstein não conseguiu

A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
“Uma nova moda surgiu na Física”, queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa “moda” era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
“Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física”, chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons,..

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A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
"Uma nova moda surgiu na Física", queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa "moda" era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
"Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física", chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons, glúons e quarks que constituem os átomos.
💡Por sua vez, a relatividade geral, que é a moderna teoria da gravidade, provou ser a melhor descrição de tudo o que acontece em grande escala, desde o funcionamento do Sistema Solar e dos buracos negros até a origem do universo.
No entanto, elas permanecem contraditórias entre si. Ou seja, as regras da relatividade geral funcionam perfeitamente para as galáxias, bem como para tudo o que nos rodeia e é visível: uma árvore, um gato, uma pérola…
Porém, assim que analisamos o comportamento de algo tão pequeno como um átomo, tudo muda.
Os pesquisadores não conseguem nem usar a mesma Matemática para explicar uma teoria e outra.
De alguma forma, a natureza consegue fazer com que os dois sistemas coexistam — mas a Ciência ainda não fez o mesmo.
Para muitos, esta incompatibilidade é a maior questão sem resposta da Física.
Einstein e milhares de outros pesquisadores em todo o mundo procuraram criar uma teoria que unisse a física quântica e a relatividade geral.
É o que muitos chamam de "teoria de tudo", um nome tão atraente que virou título do premiado filme biográfico de Stephen Hawking, um dos renomados cientistas que tentaram — também sem sucesso — encontrar o "Santo Graal" da Física.
Agora, uma nova teoria propõe uma virada radical nesta charada secular.
Seu nome, porém, é menos mercadológico: ela é chamada de teoria pós-quântica da gravidade clássica e é liderada pelo físico Jonathan Oppenheim, do Instituto de Ciência e Tecnologia Quântica da Universidade College London (UCL), no Reino Unido.
Trata-se de algo tão revolucionário que mesmo alguns dos seus detratores reconhecem que essa é a primeira abordagem verdadeiramente original a surgir em pelo menos uma década.
Há mais de 100 anos vivemos num universo cujas bases foram estudadas e definidas por Einstein
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A quarta força fundamental
Embora possa parecer contraditório, um dos aspectos mais inovadores da teoria de Oppenheim é o termo "clássico" em seu nome.
Até agora, a abordagem predominante para resolver a incompatibilidade entre a física quântica e a relatividade geral envolve modificar o último sistema para ajustá-lo ao primeiro.
É o que os físicos chamam de "quantização", porque no final ela se converte numa teoria quântica.
"Quantizar" a relatividade geral faz ainda mais sentido se pensarmos que é algo que os cientistas já conseguiram fazer com as outras três forças fundamentais que governam o universo: a força nuclear fraca, a força nuclear forte e a força eletromagnética.
Mas eles simplesmente não conseguiram fazer o mesmo com a gravidade — e não foi por falta de tentativa.
"É um problema matemático muito difícil", contextualiza Oppenheim à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Mas também é conceitualmente complicado, porque essas duas teorias têm diferenças tão fundamentais que é muito difícil conciliá-las."
Ele explica: "Quase todas as tentativas assumiram que devemos 'quantizar' a gravidade. A minha sensação sobre a razão pela qual essa tarefa tem sido tão difícil é que talvez não seja possível e que apontamos para a coisa errada."
Por isso, o pesquisador e a equipe dele decidiram mudar o foco e "modificar um pouco, ou muito, a teoria quântica, para que esses dois sistemas possam se encaixar".
Na nova teoria, publicada em dezembro de 2023 nas revistas Nature Communications e Physical Review X, a relatividade geral continua a ser uma teoria não quântica, ou clássica.
A física Sabine Hossenfelder, do Centro de Filosofia Matemática de Munique, na Alemanha, que não fez parte da pesquisa da UCL, diz à BBC News Mundo que a ideia de Oppenheim "é muito legal".
"É muito raro neste campo ver nascer uma nova ideia", observa a especialista.
Hossenfelder fez parte de um comitê que revisou a teoria há seis anos e, embora a achasse interessante, considerou que ela era "muito especulativa, imatura e vaga".
"Tinha tantas pontas soltas que parecia que poderia falhar completamente, por isso fiquei muito impressionada quando vi o que saiu vários anos depois, porque abordava quase todos esses pontos levantados", diz ela, que esclarece com um sorriso "sempre ter algo a comentar e a observar".
Dois conceitos básicos e um 'inaceitável'
O tecido (quadriculado branco na ilustração), que representa o espaço-tempo, deformado por uma bola (em amarelo), que faz alusão a uma estrela como o Sol
BBC
Uma bola de menor massa (em verde) acompanha a curvatura do tecido quadriculado causada pela maior (em amarelo), como acontece com a Terra em relação ao Sol
BBC
Antes de seguir a explicação sobre a teoria de Oppenheim, é importante compreender o conceito básico da relatividade geral e uma das características da física quântica que mais perturbou Einstein.
O que Einstein fez para revolucionar a Ciência em 1915 foi definir a gravidade como "uma deformação do espaço-tempo".
A maneira mais fácil de compreender esse conceito é pensar em um trampolim onde colocamos uma bola pesada — por exemplo, uma bola de bilhar.
Quando uma coisa dessas acontece, o tecido afunda no local onde a bola está.
Agora, imagine jogar nesse mesmo trampolim uma bola mais leve (uma bola de gude), e tentar fazê-la girar na borda da curvatura do tecido relacionada ao peso da bola mais pesada.
O que acontece é que a bola de gude vai se mover em círculos cada vez menores, aproximando-se da bola de bilhar.
Segundo a teoria da relatividade geral, isso não acontece porque a bola de bilhar exerce sobre a bola de gude uma força de atração invisível, mas porque o formato do tecido — ou melhor, a sua deformação — a obriga a fazer essa curvatura.
Na teoria de Einstein, o espaço-tempo faz a mesma coisa de forma quadridimensional — de modo que a Terra gire em torno do Sol, por exemplo.
Oppenheim explica que, na teoria pós-quântica da gravidade clássica "o espaço-tempo se mantém como aquele tecido em que vivem as partículas quânticas, tal como Einstein concebeu".
O que muda é que o espaço-tempo incorpora o acaso da física quântica, característica que deu origem a uma das frases mais famosas de Einstein: "Deus não joga dados."
Einstein acreditava que faltava informação na "moda" da física quântica, mas o que décadas de estudos têm mostrado é que a aleatoriedade não se deve a um erro na teoria ou a uma falha nas medições, mas a uma característica inerente ao comportamento das partículas fundamentais.
Oppenheim e sua equipe unem a física quântica e a relatividade geral, tornando o espaço-tempo também inerentemente aleatório.
"Ainda temos essa aleatoriedade na teoria quântica, mas ela é mediada pelo próprio espaço-tempo", explica o físico.
Em outras palavras, o próprio tecido começa a apresentar oscilações aleatórias.
Isto é algo "inaceitável" para muitos dos seus colegas — e é provável que Einstein também pensasse o mesmo.
"A estrutura aleatória do espaço-tempo é o que, em certo sentido, lança os dados na teoria quântica", compara Oppenheim, parafraseando Einstein.
'Ganha-ganha'
"Cada vez que você propõe uma nova teoria, é preciso fazer uma série de verificações para ver se ela é consistente com as observações", explica Oppenheim.
"E é emocionante que esta teoria faz previsões que podem ser testadas experimentalmente."
"Ao levar em conta que esta teoria exige que o espaço-tempo tenha flutuações, podemos busca-las", acrescenta ele.
Para isso, os pesquisadores propõem medir o peso de uma massa com extrema precisão e verificar se ela é constante ou se apresenta certas oscilações.
Por exemplo, o Escritório Internacional de Pesos e Medidas, localizado na França, pesa rotineiramente um objeto que foi usado para criar o padrão mundial do que é hoje considerado exatamente um quilo.
Ao utilizar novas tecnologias de medição quântica, de acordo com a teoria pós-quântica da gravidade clássica, o peso do referido objeto deixaria de ser um quilo e se tornaria imprevisível.
"Se encontrarmos as flutuações, provaremos que a teoria é verdadeira e, se não as encontrarmos, conseguiremos refutá-la", diz Oppenheim.
"Isso é particularmente emocionante", confessa ele.
Mas há ainda mais coisas a descobrir.
Oppenheim entende que a nova teoria poderia responder a outra das grandes incógnitas da Física moderna: o que são a matéria escura e a energia escura.
Para entender a importância disso, é primeiro antes saber o que esses conceitos são (e não são).
Todos os planetas, estrelas e objetos cósmicos visíveis são feitos da chamada matéria normal. Juntos, eles representam cerca de 5% do universo.
Os 95% restantes ainda são um mistério — e por isso são chamados de matéria escura e energia escura.
Se nos estudos para verificar a nova teoria, as flutuações forem suficientemente intensas, elas "seriam candidatas muito fortes para o que pensamos ser matéria escura e energia escura", segundo Oppenheim.
"Isso explicaria 95% da evolução do Universo, o que representaria um grande impacto", complementa o pesquisador.
Por sua vez, Hossenfelder destaca que a equipe da UCL desenvolveu uma Matemática completamente nova para esta teoria e afirma que a mera existência desses trabalhos pode ser útil para outros fins.
Em suma, a história da Ciência está repleta de pesquisas que tiveram aplicações inesperadas.
O próprio Einstein, aliás, acendeu a centelha que levou à física quântica — a qual ele renunciou até o fim da vida.
"Se houvesse algo que pudesse confirmar que estas previsões são verdadeiras, isso seria muito interessante e certamente atrairia diversas pessoas para observá-las mais de perto", considera Hossenfelder.
Mas a teoria só foi publicada há um ano — e derrubar décadas de consenso científico baseados nos estudos encabeçados por Einstein não será fácil.
Hossenfelder é cética sobre a nova teoria — algo que, na opinião dela, a coloca numa posição de "ganha-ganha".
A cientista ganha se estiver certa no ceticismo dela. Mas também ganha se estiver errada, porque isso significaria que ela — e todos nós — testemunhamos em vida o nascimento de uma nova revolução da Física.
*Com reportagem de Max Seitz.
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