Cerca de 5% da população mundial sofre com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade e a música pode ajudar a minimizar os impactos do problema sobre o desempenho escolar dos jovens pacientes Ouvir música instrumental pode ajudar crianças a cometerem menos erros por desatenção
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O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico que afeta entre 5% a 8% das crianças ao redor do mundo. Entre adultos, essa ocorrência pode chegar a 2,5%. Caracterizado por dificuldades de atenção, hiperatividade e impulsividade, o TDAH impacta o desempenho escolar e a qualidade de vida de milhares de pessoas.
Sua diversidade de formas e de intensidades leva a uma variedade de possíveis condutas para lidar com crianças diagnosticadas com esse problema. Isso não só exige pesquisa contínua, como também o treinamento de pais, professores e outras pessoas que convivam com essas crianças no dia a dia.
Música instrumental e atenção
Pensando em estratégias complementares ao tratamento farmacológico do TDAH, nosso grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (INCT NeuroTec-R), sediado no Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), investigou o efeito da música instrumental em crianças com e sem TDAH.
A ideia inicial do grupo — composto pelos professores da Faculdade de Medicina Jonas Jardim de Paula, do Departamento de Psiquiatria; Débora Miranda Marques, do Departamento de Pediatria; e por mim — era potencializar a eficiência das estruturas do cérebro relacionadas à manutenção da atenção e ao maior rendimento do indivíduo.
Os resultados, publicados no Interactive Journal of Medical Research, foram promissores. O estudo mostrou que a música pode ser uma aliada no aprendizado: ouvir música sem letra enquanto executa tarefas que exigem atenção contribui significativamente para a redução de erros.
Como cerca de 5% da população mundial tem o problema, a descoberta faz diferença no dia a dia de milhares de famílias. E crianças sem TDAH também se beneficiam dessa estratégia, que deve ser testada caso a caso, por pais e educadores, com apoio de profissionais capacitados.
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Como foi feito o estudo
Participaram da pesquisa 76 meninos, com idade entre 10 e 12 anos, divididos em dois grupos: 34 com TDAH e 42 sem o diagnóstico, pareados por idade, sexo, nível socioeconômico e inteligência. A opção de incluir apenas meninos se baseia no fato de o número de casos de TDAH ser maior no gênero masculino.
As crianças fizeram um teste de atenção padronizado. O Attention Network Test (ANT) é muito usado para medir diferentes aspectos da atenção e da função executiva, que, por sua vez, envolve a regulação de processos cognitivos como memória, raciocínio, resolução de problemas, planejamento e execução.
O teste foi realizado em duas condições distintas: com música de fundo (através de um fone de ouvido) e sem ela. O repertório musical foi escolhido entre músicas e temas populares relatados por jovens na faixa etária estudada. Aquelas que tinham letra passaram por um processo de edição para que se tornassem apenas instrumentais.
A tarefa, realizada num computador, envolvia identificar a direção tomada por um peixe central, que podia aparecer sozinho ou acompanhado de outros peixes. Ele se movia tanto na mesma direção (estímulos congruentes) quanto na direção oposta (estímulos incongruentes). Além disso, a tarefa incluía diferenças nas condições da imagem (com ou sem pistas que precedem o peixe), com o intuito de avaliar as redes de alerta e orientação.
Mais motivação, menos erros
As crianças participantes cometeram menos erros ao realizar a tarefa ouvindo música de fundo, independentemente do grupo, com TDAH ou sem. O tempo de reação dos jovens, no entanto, não mudou significativamente. Isso sugere que a música não melhora diretamente a capacidade atencional, mas pode criar um ambiente mais propício para o foco e a persistência. Acreditamos que este efeito esteja relacionado à motivação e ao estado de alerta gerado pelo estímulo sonoro.
A revisão sistemática realizada pela nossa equipe demonstrou que músicas instrumentais podem favorecer a atenção seletiva e a regulação emocional, dependendo do gênero musical e do contexto da tarefa.
Esses achados contribuem para a literatura internacional sobre o impacto da música na cognição, especialmente no contexto do TDAH. Por isso, planejamos agora novos estudos, que explorem como diferentes gêneros musicais e contextos de tarefas podem influenciar a atenção.
O tratamento de uma criança com TDAH é sempre uma tarefa desafiadora para os pais. Cada criança é única, e o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Se o seu filho ou aluno tem TDAH ou dificuldade de concentração, experimente incluir música instrumental, de fundo, durante as tarefas. Escolha músicas sem letra, como trilhas sonoras ou clássicos, e observe se há melhora no desempenho. Mas acima de tudo, músicas que sejam do interesse da criança.
Além do mais, é importante avaliar também os pais. Este transtorno tem um forte componente genético. Segundo o Ministério da Saúde, entre as crianças diagnosticadas, cerca de 30% tem um ou ambos os pais com o mesmo problema.
Houve avanços na forma como a sociedade e a ciência lidam com o TDAH, mas ainda é preciso mais conscientização a respeito dos impactos do problema sobre a vida dos pacientes e de seus familiares e cuidadores. Também é fundamental que mais profissionais sejam devidamente capacitados para lidar com o transtorno. Da mesma forma, é preciso dispor de novas estratégias, mais eficazes, para o dia a dia dos jovens. E a música pode ser uma delas.
*Os autores não prestam consultoria, trabalham, possuem ações ou recebem financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficiaria deste artigo e não revelaram qualquer vínculo relevante além de seus cargos acadêmicos.
VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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