Sarapó Ka'apor tinha um histórico de combate e defesa dos territórios indígenas. Aos 45 anos, ele era considerado saudável até morrer de forma repentina. Sarapó Ka'apor tinha um histórico de combate e defesa dos territórios indígenas
Andrew Johnson
A Polícia Civil está investigando o caso da morte do líder indígena Sarapó Ka'apor, ocorrida no dia 14 de maio, e que está cercado de desconfiança pelos indígenas Ka'apor na região de Centro do Guilherme, a cerca de 289 km de São Luís.
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Segundo as informações que chegaram até a polícia, Sarapó teria passado mal e morrido repentinamente durante a madrugada, dentro de uma residência na aldeia indígena. A morte foi atribuída a um 'AVC ou derrame', mesmo sem a realização de um exame cadavérico. O corpo foi enterrado em um cemitério na comunidade.
Desde então, os indígenas Ka'apor começaram a cobrar explicações sobre essa morte, inclusive a exumação do corpo, já que Sarapó tinha somente 45 anos e era considerado um homem saudável pela tribo. A suspeita é a de que ele foi envenenado.
"Antes de morrer, Sarapó foi ameaçado e em um passado recente foi vítima de um ataque à bala. Por isso ele vivia se deslocando de aldeia em aldeia para não ser localizado. No dia da morte, os familiares relataram que recebeu um peixe de presente de um morador do povoado e depois começou a passar mal", relata Luis Antonio Pedrosa, advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.
Histórico de luta pelas terras indígenas
Sarapó já era bastante conhecido na região pela luta contra a atuação do garimpo e de madeireiras que insistem em ameaçar ou desmatar a floresta amazônica que restou na região do Alto Turiaçu, onde se encontram quase meio milhão de hectares de terras indígenas, em especial dos Ka'apor.
"Ele [Sarapó] era uma das principais lideranças indígenas do Maranhão e há anos denunciava a invasão da terra indígena por madeireiros. Era chefe da Guarda de Autodefesa dos Ka'apor", afirma o advogado popular no Maranhão, Diogo Cabral.
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Também há relatos de que o líder indígena era o homem que conduzia diretamente as fiscalizações que buscavam encontrar invasores e por isso era bastante odiado pelos inimigos.
"A situação lá sempre foi complicada. A terra indígena é a maior do estado, com uma comunidade indígena de baixa densidade populacional. Então, muitas pessoas vivem invadindo o território para retirar madeira, caçar, pescar, plantar maconha …", explica Antonio Pedrosa.
Na mesma região, em 2020, Kwaxipuru Kaapor, de 32 anos, foi encontrado morto à beira de uma estrada perto do limite entre a Terra Indígena Alto Turiaçu e a cidade de Centro do Guilherme.
Em abril de 2015, o agente indígena de saneamento, Eusébio Ka'apor, da aldeia Xiborendá, também foi morto após dois homens encapuzados abordarem seu veículo e efetuarem um tiro nas costas. Já em 2016, foi a vez de Sairá Ka’apor ser assassinado em um bar durante um discussão envolvendo madeireiros e indígenas, segundo Diogo Cabral.
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Em outros casos, o jovem Hubinet Ka’apor foi espancado com pauladas até a morte, em 2010, também em Centro do Guilherme e, um ano depois, Em 2011, Tazirã Ka’apor foi morto por um caminhão madeireiro.
Corpo será exumado
No Boletim de Ocorrência registrado na Polícia Civil de Santa Luzia do Paruá, o delegado do caso, José Raimundo Batalha, diz que Sarapó teve uma 'crise de tremedeira' pouco antes de morrer, mesmo que nunca tivesse sentido algo parecido antes.
Entidades de órgãos de defesa dos Direitos Humanos também cobraram providências por parte do delegado, que decidiu pedir a exumação do corpo. O procedimento foi realizado no último sábado (11) e o resultado ainda não saiu.
A partir do resultado do exame, a polícia irá analisar se prossegue, ou não, com as investigações do caso.