Gestão Trump tem pressionado universidade a reduzir políticas de inclusão e adotar uma agenda alinhada à do presidente. Instituição questiona legalidade das medidas governamentais. Manifestantes protestam contra ações do governo Trump que miram a Universidade de Harvard
REUTERS/Nicholas Pfosi
O governo dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira (14) o congelamento de cerca de US$ 2,3 bilhões (R$ 13,1 bilhões) em subsídios e contratos com a Universidade de Harvard. Mais cedo, a instituição disse que não vai cumprir exigências da gestão de Donald Trump, como o fim de programas de inclusão e equidade.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
Em uma carta enviada a Harvard na sexta-feira (11), o governo pediu reformas amplas na administração da universidade, a adoção de políticas de admissão e contratação “baseadas em mérito”, além da realização de uma auditoria com estudantes, professores e dirigentes.
As exigências também incluem a proibição do uso de máscaras — uma medida vista como direcionada a manifestantes pró-Palestina. O governo alega que manifestações contra a guerra na Faixa de Gaza em 2024 foram movidas por antissemitismo.
As exigências impostas a Harvard fazem parte de um esforço mais amplo para usar dinheiro público como forma de pressionar grandes instituições acadêmicas a seguir a agenda política de Trump e influenciar as políticas nos campi.
EUA congelam bilhões de Harvard por não adotar políticas alinhadas ao governo
O presidente de Harvard, Alan Garber, afirmou em uma carta que as exigências violam os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA e "excedem os limites legais da autoridade do governo sob o Título VI", que proíbe discriminação contra estudantes com base em raça, cor ou origem nacional.
“Nenhum governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, escreveu Garber.
“Esses objetivos não serão alcançados por meio de imposições de poder, desvinculadas da lei, para controlar o ensino e a aprendizagem em Harvard e ditar como operamos”, afirmou.
“A tarefa de enfrentar nossas falhas, cumprir nossos compromissos e incorporar nossos valores cabe a nós, enquanto comunidade.”
Na sequência, o Departamento de Educação dos Estados Unidos anunciou o congelamento dos recursos, afirmando que a declaração de Harvard mostra que a "mentalidade" da instituição desrespeita leis de direitos civis.
LEIA TAMBÉM
China rebate governo Trump e diz que países da América Latina 'não são quintal de ninguém'
Vice de Trump, J.D. Vance se atrapalha e derruba troféu de time em cerimônia na Casa Branca; VÍDEO
Bukele diz que não vai devolver aos EUA imigrante que foi deportado por engano a El Salvador
Campanha de pressão
Trump recebe Bukele na Casa Branca em meio a protesto e não poupa elogios: 'Baita presidente'
Harvard é uma das várias universidades da Ivy League alvo de uma campanha de pressão, que já levou à suspensão de financiamentos federais para as universidades da Pensilvânia, Brown e Princeton, como forma de forçar a adesão à agenda do governo.
A carta de exigências enviada a Harvard é semelhante à que motivou mudanças na Universidade Columbia sob ameaça de cortes bilionários.
As medidas do governo Trump levaram um grupo de ex-alunos a escrever para os dirigentes da universidade, pedindo que “contestem legalmente e se recusem a cumprir exigências ilegais que ameaçam a liberdade acadêmica e a autonomia universitária”.
“Hoje, Harvard defendeu a integridade, os valores e as liberdades que sustentam o ensino superior”, disse Anurima Bhargava, uma das ex-alunas por trás da carta.
“Harvard lembrou ao mundo que o aprendizado, a inovação e o crescimento transformador não se curvam à intimidação e a caprichos autoritários.”
A decisão do governo também provocou um protesto no fim de semana, com a participação de membros da comunidade de Harvard e moradores de Cambridge, além de um processo judicial movido na sexta-feira pela Associação Americana de Professores Universitários contestando os cortes.
Na ação, os autores argumentam que a administração Trump não seguiu os procedimentos exigidos em lei antes de iniciar os cortes de financiamento, incluindo o envio de notificações tanto à universidade quanto ao Congresso.
“Essas exigências amplas e, ao mesmo tempo, indefinidas, não são medidas corretivas direcionadas às causas de qualquer descumprimento da lei federal. Em vez disso, visam claramente impor à Universidade Harvard visões políticas e preferências ideológicas do governo Trump, comprometendo a universidade a punir discursos que o governo desaprova”, escreveram os autores da ação.
VÍDEOS: mais assistidos do g1
Related Posts
Corte de gastos: Educação perde R$ 42,3 bilhões até 2030; alvo são verbas para ensino integral
Proposta libera no orçamento do MEC recursos hoje 'carimbados' para educação integral. Missão seria transferida para o Fundeb, que também custeia salários e obras; ONG vê risco. O pacote de corte de gastos anunciado pelo governo federal nesta quinta-feira (29) retira R$ 42,3 bilhões, nos próximos cinco anos, do orçamento do Ministério da Educação.
A medida pode afetar, principalmente, uma promessa de campanha do governo Lula: a expansão do ensino em tempo integral.
A mudança foi parcialmente anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista nesta quinta – mas sem detalhamento.
O pacote ainda vai passar pelo Congresso Nacional, que pode fazer mudanças nas regras durante a tramitação. Os três textos a serem enviados não tinham sido divulgados até a manhã desta sexta (29).
Um dos projetos deve prever que recursos que hoje estão reservados no orçamento próprio do Ministério da Educação para o ensino em tempo integral não teriam mais esse “carimbo”.
Ou seja: eles..

‘Homeschooling’: STF mantém inconstitucionalidade de lei que permitia ensino domiciliar no DF
DF foi primeira unidade da federação a criar normas sobre tema. Decisão do Supremo diz que ensino domiciliar só pode ser criado e regulamentado por meio de lei federal. Crianças desenhando, em imagem de arquivo
Marcelo Camargo/Agência Brasil
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a inconstitucionalidade da lei que permitia a educação domiciliar, o chamado “homeschooling”, no Distrito Federal.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp.
A lei havia sido sancionada pelo governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), em dezembro de 2020. O DF foi a primeira unidade da federação a criar normas sobre o tema.
No entanto, uma decisão do STF de 2018 diz que o ensino domiciliar só pode ser criado e regulamentado pelo Congresso Nacional, por meio de lei federal.
“Por isso, qualquer legislação municipal, estadual ou distrital que o adote será inconstitucional, por invadir a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação”, in..

Jovem que deixou curso por causa da depressão faz Enem para voltar à universidade: ‘Ter uma vida comum’
Maria da Guia quer voltar a estudar ciências biológicas. Maria da Guia deixou curso por causa da depressão e faz Enem para voltar à universidade
Lara Brito / g1
Maria da Guia já começou os cursos de ciência da computação e ciências biológicas. Mas por conta da depressão, precisou deixar os dois. Neste domingo (10), ela passa pelo segundo dia de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em João Pessoa, e aposta na prova para voltar à universidade.
📲Compartilhe esta notícia pelo Whatsapp
📲Compartilhe esta notícia pelo Telegram
Mesmo com a coragem de fazer a prova pela quarta vez, Maria da Guia teme pelo recomeço. Mas ainda assim, enxerga no Enem uma possibilidade para conseguir dar continuidade aos planos.
“É um teste […]. Vou saber se vou conseguir ter uma vida 'comum' como as outras pessoas”, pontuou.
LEIA TAMBÉM:
Filha se inscreve no Enem para apoiar mãe que faz o exame pela primeira vez
No momento, a jovem faz tratamento psicológico em um Centro de Atenção de At..