JAIRO MALTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tarde de sábado no Campo Limpo, região do extremo sul de São Paulo, começou com gritos de fãs e coros ensaiados das músicas dos sertanejos Thaeme e Thiago. A dupla foi a escolhida para iniciar as apresentações da Virada Cultural no palco principal da praça Campo Limpo, que também teve Vitão e Xande de Pilares -o palco Rio Diniz fica na outra extremidade da praça Campo Limpo.
Durante os 60 minutos de música sertaneja, a dupla paranaese mostrou que é famosa mesmo na periferia paulistana. O público, que não chegou a encher a praça, cantou de forma enérgica os principais hits da banda, entre eles "O Que Acontece na Balada", do disco "Novos Tempos", de 2014, e "Deserto", do álbum "Perto de Mim", de 2013.
Na primeira apresentação, o clima era de festa na praça, com carrinhos de pipoca, algodão doce, crianças correndo e caindo a todo momento. Balões infantis luminosos se misturavam à claridade das telas de celulares que o público usava para registrar o show.
Depois de um intervalo de uma hora e após "Ela Partiu" -canção de Tim Maia, tocada por um DJ no intervalo das apresentações e conhecida no meio do rap por ter sido usada como sample da música "Homem na Estrada", do grupo de rap da região Racionais MCs-, Vitão começou sua apresentação, com 40 minutos de atraso e gritos de "começa, começa".
O público foi praticamente o dobro do que foi visto no show dos sertanejos Thaeme e Thiago. A canção "Tá Foda", lançada em 2019, foi a escolhida para começar a apresentação.
Diferente do show sertanejo que teve coro dos fãs do início ao fim, pouco se ouviu do público durante as primeiras canções -o som do palco estava mais alto do que mais cedo, volume que fez parte da plateia reclamar.
"Complicado", canção que Vitão divide com a funkeira Anitta, é um dos pontos altos do show -porém, ao mesmo tempo, os mais velhos que assistem à apresentação, fazem piadas sobre o show e questionam "falta muito pro Xande de Pilares começar?".
Durante cerca de 25 minutos, Vitão para de cantar, pega uma guitarra e transforma o show de rap melódico numa breve apresentação de heavy metal começando um solo de guitarra ao som de "Sweet Child O' Mine", da banda Guns N' Roses, e terminando com a guitarra de joelhos ao estilo Jimi Hendrix.
A música "Café", um dos maiores hits do cantor com 89 milhões de views no Spotify, é a penúltima canção do lineup. Antes de o músico sair do palco, ele puxa o coro de "Andar com Fé", de Gilberto Gil, e comenta que cantar na Virada Cultural era um sonho de infância dele, hoje com 22 anos.
"Sempre assisti a Emicida, Cone Crew Diretoria, Racionais MCs na Virada, isso é um sonho realizado na minha vida", afirma o cantor, que encerrou o show com "Embrasa", canção que divide autoria com o rapper Luccas Carlos.
O público ovacionou Vitão na despedida, mas foi ao delírio quando o nome de Xande de Pilares foi anunciado. Na sequência, gritos de "fora, Bolsonaro" e "Bolsonaro você acabou com a minha vida" foram ouvidos vindos do público.
Enquanto a banda preparava o palco para o sambista Xande de Pilares -escolhido para encerrar as apresentações do dia no Campo Limpo–, parte dos que aguardavam a apresentação já ensaiavam o grito "começa, começa".
Enquanto o samba não começa, uma opção para aliviar a ansiedade são as barraquinhas de alimentação. Os preços têm valor popular. Pastel, cachorro-quente e acarajé são vendidos a R$ 10. Entre as bebidas, o uísque com energético e gelo de coco -bebida comum em bailes funk de São Paulo- custa R$ 30, e a cerveja, R$ 5.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, subiu ao palco e, com uma hora de atraso, chamou em contagem regressiva o samba de Xande de Pilares. O sambista foi recebido aos gritos pelo público, que, a essa altura, lotava a praça Campo Limpo, reafirmando que o show era o mais aguardado da noite. O espaço tem capacidade para 8.000 pessoas.
Com uma banda cheia de instrumentos, backing vocals e que ocupa todo o palco, ele iniciou a apresentação com "Samba Bombom". Logo depois, o show foi interrompido por uma falha no som. De terno amarelo e calça branca, Pilares cantou "Tem que Provar que Merece" assim que o som foi restabelecido. Ele é acompanhado pelo público, que canta e samba.
Antes de cantar "Deixa Acontecer" -canção da época que o cantor era do grupo Revelação-, Pilares comenta que não foi a favor de a banda gravar essa música. "Me falaram que eu ia envelhecer tocando essa, e 22 anos depois estou aqui cantando", afirma o sambista.
Pilares comentou que estava impressionado com a quantidade de pessoas. "Dá para gravar um DVD aqui." Na sequência, puxa mais um medley de hits -"Brincadeira Tem Hora", "Faixa Amarela" e "Vai Lá, Vai Lá", todas elas cantadas por quase todo o público.
Sempre antes de um grande hit, Pilares contava um pouco sobre a história da música. Antes de "Coração Radiante" e "Grades do Coração", por exemplo, ele lembrou que as canções foram feitas numa época em que ele era apaixonado por uma vizinha.
É claramente visível como o público se identifica mais com as músicas de Pilares do que com os shows que o antecederam na noite. A cada nota iniciada pelos instrumentos da banda, a plateia já cantava parte da música -momentos que lembram o extinto programa "Qual É a Música", do SBT.
Próximo do fim da apresentação, Xande de Pilares fez uma homenagem a Arlindo Cruz, que sofreu um AVC e ficou impossibilitado de cantar, e chamou à frente do palco Tito, percussionista da banda e que tocou com Cruz, para cantar "Meu Lugar".
Com "Vou Festejar", canção de Beth Carvalho, e "Vou Pedir pra Você Voltar", de Tim Maia, Xande de Pilares encerrou a noite em que o samba se sobressaiu sobre o rock, o rap e o sertanejo. Mas, antes do desligar das luzes, o público voltou a gritar "fora, Bolsonaro".