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EUA tentam aliviar frustração de palestinos sobre consulado

DIOGO BERCITO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O governo de Joe Biden tem tentado apaziguar a crescente frustração das autoridades palestinas, que esperam que o presidente cumpra a promessa de reabrir um consulado em Jerusalém. A tarefa de agradar os palestinos, porém, esbarra nas expectativas de Israel, um país com o qual os Estados Unidos vivem hoje um momento de excepcional afabilidade.

Os americanos tinham um consulado em Jerusalém para representação junto aos palestinos. Quando, em 2018, o então presidente Donald Trump transferiu a embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, ele fechou o escritório. O gesto foi importante porque sinalizou apoio a israelenses na disputa com palestinos na cidade que os dois lados consideram sua capital. Foi também um símbolo do rebaixamento dos palestinos nas prioridades americanas.

Biden venceu as eleições em 2020 e, desapontando a Autoridade Nacional Palestina, nunca reabriu o consulado. Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado..

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DIOGO BERCITO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O governo de Joe Biden tem tentado apaziguar a crescente frustração das autoridades palestinas, que esperam que o presidente cumpra a promessa de reabrir um consulado em Jerusalém. A tarefa de agradar os palestinos, porém, esbarra nas expectativas de Israel, um país com o qual os Estados Unidos vivem hoje um momento de excepcional afabilidade.

Os americanos tinham um consulado em Jerusalém para representação junto aos palestinos. Quando, em 2018, o então presidente Donald Trump transferiu a embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, ele fechou o escritório. O gesto foi importante porque sinalizou apoio a israelenses na disputa com palestinos na cidade que os dois lados consideram sua capital. Foi também um símbolo do rebaixamento dos palestinos nas prioridades americanas.

Biden venceu as eleições em 2020 e, desapontando a Autoridade Nacional Palestina, nunca reabriu o consulado. Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, repetiu a promessa na terça (31) e negou que tenha sido abandonada. No mesmo dia, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, reiterou a cobrança em telefonema a Antony Blinken, responsável pela diplomacia -ele já havia pedido a reabertura do escritório em março, numa reunião presencial.

Abbas disse esperar que Biden transforme palavras em ações, segundo a agência de notícias estatal palestina Wafa. Não há, porém, data para a eventual inauguração nem indícios de que Biden tenha feito algum gesto concreto.

Circulam, nesse meio-tempo, rumores de que os EUA podem tomar medidas temporárias para afagar os palestinos. O jornal Times of Israel, por exemplo, afirmou no último dia 29 que Biden deve nomear Hady Amr, de origem libanesa, como enviado especial para assuntos palestinos.

A ideia é que a embaixada americana em Israel, que Trump transferiu para Jerusalém, deixe de cuidar de temas ligados aos palestinos. Esses seriam tratados pela equipe de Amr, com base em Washington, incrementando a representação diplomática sem reabrir o consulado. De acordo com o jornal, citando diplomatas, o arranjo existe mas não foi formalizado. A ideia é fazer o anúncio antes da viagem de Biden à região, prevista para o fim de junho.

"Há uma tremenda frustração entre os palestinos", diz à Folha Ghaith al-Omari, analista sênior do Washington Institute. Ex-conselheiro de Abbas para relações com os EUA, ele afirma que a nomeação de Amr é vista como meia-medida. O nome do servidor circula bem entre palestinos e ele é visto como justo na mediação das desavenças, "mas não tem o mesmo peso diplomático que reabrir o consulado".

A liderança palestina tem poucas saídas hoje, além de continuar a expressar seu desgosto. Biden tampouco tem muitas opções. Os israelenses interpretariam o consulado como uma sinalização de que os americanos enxergam Jerusalém como possível capital de um Estado palestino –ideia que a eles causa horror.

Os EUA não querem desagradar Israel, em parte porque os países vivem hoje um momento excepcional. "A relação entre o governo de Biden e o do primeiro-ministro Naftali Bennett está fortíssima", afirma Dov Waxman, professor na Universidade da Califórnia em Los Angeles. "É impressionante, se você comparar com o amargor e as disputas vistas entre Barack Obama e Binyamin Netanyahu."

Nesse contexto, afirma Waxman, a possível nomeação de Amr como enviado especial seria uma maneira de "apaziguar a frustração palestina sem prejudicar as relações americanas com Israel".

Há ainda mais um fator no cálculo de Washington. A reabertura do consulado poderia causar reações tão fortes que ameaçariam a frágil coalizão que mantém Bennett no poder -e Netanyahu fora dele. "O governo Biden prefere o premiê atual e sabe que, se pressionar muito com o tema do consulado, essa coalizão pode se desintegrar, o que seria uma escolha ruim", afirma Eytan Gilboa, professor de relações internacionais na Universidade Bar-Ilan, em Israel.

A aliança, que reúne siglas da esquerda à ultradireita, incluindo parlamentares de origem árabe, registrou defecções e sofreu abalos, em meio a críticas pela ação das for- ças de segurança em confrontos recentes com palestinos.

Como os demais ouvidos pela Folha, Gilboa diz não acreditar que os EUA reabram o consulado em Jerusalém nos próximos meses. Biden deve continuar a priorizar as boas relações com Israel e se debruçar sobre o que o professor descreve como as questões urgentes da diplomacia americana na região: o acordo nuclear com o Irã e os Acordos de Abraão entre Israel e países árabes.
"O tema dos palestinos é o menos importante, hoje."

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