
Em uma data tão especial como essa, em que se celebra o amor, a paixão, o bem-querer, pode ser bem complicado lidar com a rejeição. Essa ideia de amar intensamente alguém pode se tornar um perigo, tanto para quem ‘ama’ quanto para quem é ‘amado’. O amor está no ar, é o que dizem os românticos. Hoje é dia de trocar presentes, fazer declarações de amor ou até mesmo ficar na sofrência, pensando naquele crush que não retribui o sentimento. E falando em amor, você já parou para pensar por que somos tão românticos?
Herança da Idade Média, a ideia do amor romântico é celebrada neste domingo; mas é preciso ter cuidado com relacionamentos abusivos
Reprodução/TV TEM
Embora pareça fazer parte da vida humana desde sempre, a ideia de amor é uma construção da Idade Média, sim, aquele período bucólico (marcado por costumes do campo, pastoril) e até temido por muitos por, erroneamente, ser chamado de Idade das Trevas (mas isso é outra história).
A professora Adriana Zierer, do departamento de História da Universidade Federal do Maranhão (UEMA) e pesquisadora do período medieval, destaca que as ideias de amor que nós temos, na atualidade, o amor cortês, o amor platônico e o tão famoso amor romântico, são frutos do período medieval.
Herança da Idade Média, a ideia do amor romântico é celebrada neste domingo
Ayrton/pexels
“A ideia do amor que nós temos ela está muito relacionada a questão do amor cortês. E dentro dessa ideia desse amor, que pode ser platônico, nós temos também um outro amor, o amor que nós também sonhamos hoje em dia, que é o amor romântico, que também surgiu no período medieval. Esse amor romântico é aquele da ideia do príncipe encantado, que nós mulheres até hoje temos, que nós vamos encontrar um homem maravilhoso, um príncipe, isso é da Idade Média. Então a ideia que vai ter um homem perfeito, maravilhoso, com todas as características vem do período medieval. E se a gente for lembrar a obra Tristão e Isolda, que é um romance produzido no século 12, na chamada Idade Média Central, a gente vai ter justamente isso. É um amor capaz de vencer todos obstáculos, e os dois se amam apaixonadamente e não podem viver um sem o outro”, explica a pesquisadora.
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Adriana aponta também que, no amor cortês, o homem corteja a mulher mas, muitas vezes ele não é correspondido e fica amando platonicamente. Sentimento que é expresso por meio da literatura trovadoresca.
“Um outro elemento também que a gente pode dizer é que essa literatura, essa literatura trovadoresca, a literatura lírica, digamos assim, ela desenvolveu a chamada ideia do amor cortês. Então no amor cortês o que acontece? Um homem vai cortejar uma determinada mulher e, dentro da questão do amor cortês, muitas vezes esse homem vai ficar amando platonicamente essa mulher. Ele ama essa mulher mas nada acontece, então ele fique esperando dela um sorriso, alguma uma coisa e a ama apaixonadamente, faz tudo que ela quer. Então uma ideia de amor assim, a ideia do amor que nós temos ela está muito relacionada a questão do amor cortês”, destaca a pesquisadora.
Analisando bem esse contexto, tem muito a ver com a ideia de crush que nós temos, que é quando uma pessoa tem uma intensa paixão por alguém ou uma ‘quedinha’, um ‘paixonite’, enfim, são muitos substantivos para isso, mas muitas vezes esse sentimento não é correspondido.
Cuidado com relacionamentos abusivos.
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E, em uma data tão especial como essa, em que se celebra o amor, a paixão, o bem-querer, pode ser bem complicado lidar com a rejeição. Essa ideia de amar intensamente alguém pode se tornar um perigo, tanto para quem ‘ama’ quanto para quem é ‘amado’. Isso porque, há muitos casos em que a pessoa cria uma obsessão pela outra e transforma um sentimento tão bonito em ideia de posse, que pode progredir para a violência física e psicológica.
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E para ajudar a gente a não cair em ciladas e entrar em um relacionamento abusivo, o g1 MA conversou com a psicóloga Ana Paula Adler Borges, que é especialista em terapia de casal, com certificação internacional em Ciência do Bem Estar pela Yale University e especialização em Terapia Cognitivo Comportamental pela PUC-RS.
Leia a entrevista completa:
g1: O que se deve observar na fase do namoro, para quem pensa em constituir família no futuro?
Ana Paula Adler Borges: O namoro é o momento para entender a dinâmica do relacionamento, perceber se ambos têm os mesmos objetivos de vida, quais os hobbies e manias do outro, observar a forma como se relaciona com familiares e amigos, analisar como seu parceiro reage nas dificuldades e adversidades, como o outro lida com dinheiro e, acima de tudo, qual o papel do diálogo dentro do relacionamento.
g1: Qual a importância do namoro para as futuras relações familiares?
Ana Paula Adler Borges: Namoro é a fase de você experimentar o outro. Independente do tempo de relacionamento, é durante essa fase que você pode e deve avaliar e escolher se quer dar andamento nessa relação e evoluir para algo mais sério. Observar se o seu parceiro possui os mesmos objetivos com relação à estrutura familiar que você quer no futuro é fundamental. Muitas pessoas acreditam que após o casamento, várias questões serão resolvidas automaticamente, quando na verdade, aquilo que foi postergado ou mal resolvido pode ter um efeito muito mais sério para o seu casamento futuro.
g1: Quando o ciúme deixa de ser saudável para se tornar uma obsessão?
Ana Paula Adler Borges: Ciúme pode ter inúmeras fontes de origem: traumas de relacionamentos anteriores, referências familiares, insegurança, projeção de algo errado que a pessoa ciumenta pode estar fazendo… Independente do motivo, o que leva uma característica a deixar de ser normal e passar a algo preocupante é a intensidade e a frequência com que ela se apresenta. Se você percebe que o ciúme atrapalha suas relações, afasta seu parceiro, dá origem a discussões, faz com que um dos dois tenha receio ou até medo de falar com outras pessoas, é sinal de que você precisa conversar com seu parceiro sobre isso, solicitar que ele procure ajuda profissional ou até mesmo que você avalie se é interessante continuar nessa relação.
g1: Como identificar se o namoro pode estar sendo um relacionamento abusivo?
Ana Paula Adler Borges: Todo relacionamento deve ser uma troca de amor, respeito, companheirismo, admiração. Troca de afeto, desejo, gostos, pensamentos e ideias. As pessoas precisam entender que namoro é um estágio da vida para conhecer o outro e se conhecer enquanto pessoas dentro de um relacionamento. Ao estar num relacionamento abusivo você começa a perceber que precisa, muitas vezes, ser outra pessoa para agradar, alterar seus pensamentos e comportamentos, não ter voz nem vez. Muitas vezes o agressor pode ser extremamente carinhoso, porém não valoriza o outro, o colocando numa posição inferior, inexperiente ou incapaz. É importante saber que não precisa ter agressão física para o relacionamento ser abusivo. Você se diminuir para "caber" no lugar que o outro quer que você ocupe já é um sinal que deve ser observado.
g1 – Como se livrar de um namoro complicado?
Ana Paula Adler Borges: O primeiro passo é sempre entender os motivos pelos quais o namoro está na situação atual. Após isso, ver quais pontos você pode melhorar. Depois é importante que você converse com seu parceiro e mostre que não está satisfeito com algumas questões do relacionamento e, juntos, vejam algumas possibilidades de evolução enquanto casal. Muitas pessoas repetem padrões antigos de relacionamentos conturbados, que viram nos seus pais por acharem que isso é o normal. Se o seu parceiro demonstrar que gostaria de mudar, deixar o relacionamento mais leve, uma boa alternativa é procurar ajuda profissional, fazer terapia de casal para que essa mudança seja mais profunda e duradoura. É sempre importante tratar a causa do problema e não sua demonstração. Porém, se você acredita que o relacionamento não tem futuro, converse com familiares, amigos e psicólogo para eles deem apoio para que você consiga ser firme em sua decisão. Muitas vezes estamos em relacionamentos em que somos emocionalmente dependentes e nem percebemos. Ter ajuda é fundamental para sua saúde emocional.
g1: O que fazer para se relacionar bem com o parceiro ou parceira?
Ana Paula Adler Borges:
A primeira dica é buscar ter autoconhecimento, entender seus pontos fortes e características que precisa melhorar.
Respeitar a individualidade do outro e respeitar seu espaço.
Conversar e manter um relacionamento baseado no diálogo é fundamental para que até as menores questões sejam resolvidas.
Entender que nem tudo precisa ser do seu jeito e que o namoro não é competição.
Reserve sempre algum tempo para vocês dois, poque a rotina e excesso de estudo/trabalho pode afastar o casal, caso você não esteja atento.
Surpreenda o outro: não precisa ser nada grandioso, mas uma mensagem no meio do dia falando que está com saudade, um chocolate, um carinho inesperado sempre é bem-vindo.
Existem várias formas de dizer EU TE AMO e cuidar do outro é uma das mais fortes! Ser compreensivo, companheiro, se colocar no lugar do outro é sempre importante.
Então, aí estão as dicas. E, caso seu namoro não esteja indo e bem e, em algum momento você for vítima de algum tipo de violência, fuja disso e busque ajuda da sua família, das autoridades policiais e, também, apoio psicológico.
Mas, se estiver tudo de boa, aproveite esta data para se declarar a quem você gosta e, se puder, presentei também. Curta muito e seja feliz!
Herança da Idade Média, a ideia do amor romântico é celebrada neste domingo
Dois Amores/Divulgação
A origem do Dia dos Namorados
A celebração do Dia dos Namorados no Brasil começou a ser feita em1948 e, ao contrário do que muitos pensam, o motivo não foi necessariamente celebrar o amor, e sim alavancar as vendas do comércio.
Tudo começou com uma ideia do publicitário João Doria, que era pai do ex-prefeito de São Paulo João Doria Jr. Após ser contratado para tentar alavancar as vendas de uma loja, ele se inspirou no sucesso de vendas que era o Dia das Mães, e criou o Dia dos Namorados, uma data que deveria ser celebrada com a troca de presentes.
A escolha do mês de junho aconteceu por dois motivos, o primeiro foi o fato de ser um mês fraco para o comércio. Já o segundo motivo foi por ser o mês de Santo Antônio, que é considerado o santo casamenteiro. Como dia de Santo Antônio é em 13 de junho, Doria decidiu que dia 12, véspera da celebração de Santo Antônio, seria uma boa data para se celebrar o amor.
Slogan de propaganda do Dia dos Namorados criada por João Doria
TEXTO DE JOÃO DORIA, ARTE DE FRITZ LESSIN
Com o sucesso da data e o apelo emocional que ela trazia, a celebração começou a se espalhar e se tornou tradição em todo o Brasil.
Enquanto que no Brasil se celebra o Dia dos Namorados em 12 de junho, desde 1948, na Europa, a celebração é mais antiga, datada do século 5, em homenagem a São Valentim, uma data muito comemorada nos Estados Unidos.
Várias histórias são contadas sobre esse santo, porém a mais famosa é a de que ele era um padre romano que foi condenado à pena de morte.
Contam os pesquisadores que, no século 3, o imperador Claudio II havia banido os casamentos por acreditar que a união afetava o bom desempenho dos soldados. Mas o padre Valetim foi em defesa do casamento, afirmando que a união se tratava do plano de Deus. E, para celebrar o amor entre as pessoas, o padre passou a realizar cerimônias de casamento em segredo.
Ele foi descoberto, preso e sentenciado à morte. Porém, durante sua prisão, ele teria se apaixonado pela filha cega de um carcereiro e, no dia em que seria executado, ele enviou uma carta para o amor de sua vida, com a assinatura ‘do seu Valentim’, isso foi no dia 14 de fevereiro de 269 d.C.
Dois séculos depois, o padre Valetim foi considerado santo, e a data da sua morte se tornou uma celebração e um símbolo dos namorados. A comemoração acabou sendo um sincretismo (mistura de diferentes cultos e/ou doutrinas religiosas) entre a fé cristã e uma antiga tradição pagã, que era um festival romano chamado de Lupercalia. O festival era realizado no meio do mês de fevereiro e celebrava a fertilidade, sendo um marco do início oficial da primavera.
Atualmente, o dia de São Valentim é comemorado na Europa e nos EUA e conta com o envio de cartões para a pessoa amada.