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Polícia de SP investiga suposto esquema do PCC para compra de armas via CACs

(FOLHAPRESS) – Durante as operações de combate ao crime organizado no transporte público realizadas neste mês na capital, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu uma série de armas de fogo, entre fuzil, submetralhadora e pistolas de vários tipos, além de farta munição em endereços ligados a supostos membros do PCC.

Essas apreensões levaram à abertura de nova investigação porque, para surpresa dos policiais, todo o armamento estava registrado legalmente em nome de CACs (colecionadores, atiradores e caçadores). Para a polícia, trata-se de um possível esquema criminoso para aquisição de armas por meio de laranjas.

Uma dessas apreensões ocorreu no início do mês na região do Itaim Paulista, zona leste da capital, na casa de Anísio Amaral da Silva, vulgo Biu, apontado pelos policiais do Denarc (narcóticos) como uma das seis lideranças que controlavam a UPBus, empresas de ônibus que atua na mesma zona leste.

Segundo relatório da polícia, ele foi investigado por crimes como “tráfico de droga..

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(FOLHAPRESS) – Durante as operações de combate ao crime organizado no transporte público realizadas neste mês na capital, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu uma série de armas de fogo, entre fuzil, submetralhadora e pistolas de vários tipos, além de farta munição em endereços ligados a supostos membros do PCC.

Essas apreensões levaram à abertura de nova investigação porque, para surpresa dos policiais, todo o armamento estava registrado legalmente em nome de CACs (colecionadores, atiradores e caçadores). Para a polícia, trata-se de um possível esquema criminoso para aquisição de armas por meio de laranjas.

Uma dessas apreensões ocorreu no início do mês na região do Itaim Paulista, zona leste da capital, na casa de Anísio Amaral da Silva, vulgo Biu, apontado pelos policiais do Denarc (narcóticos) como uma das seis lideranças que controlavam a UPBus, empresas de ônibus que atua na mesma zona leste.

Segundo relatório da polícia, ele foi investigado por crimes como "tráfico de drogas, posse de arma de fogo de uso restrito (grosso calibre), além de associação e organização criminosa". No endereço dele, foram encontradas seis armas, entre fuzil .556, submetralhadora .40, pistola 9 mm e revólver .357.

As armas estão registradas, porém, em nome de um parente dele, sem antecedentes criminais, que mora na mesma casa. Segundo registros oficiais, elas estão avaliadas em R$ 50 mil, "incompatível com os rendimentos mensais de seu proprietário", que giram em torno de R$ 2.000. Esse é o valor do salário dele na empresa de ônibus UPBus, segundo a polícia.

Na mesma operação do Denarc, os policiais fizeram buscas na casa do diretor da UPBus Ubiratan Antonio da Cunha, onde foram apreendidas duas pistolas (.380 e 9 mm) também legalizadas, que estavam em nome desse diretor como CAC. Segundo os policiais, ele também não tem registros criminais.

Além das armas, foi encontrada na casa de Cunha "grande quantidade de munições, projéteis, estojos vazios de calibres variados, milhares de espoletas e três quilos de pólvora", segundo os registros oficiais.

"Isso nos preocupa, porque a gente acredita que os criminosos possam estar usando essas armas por meio de 'laranjas', que se valem das condições que têm para conseguir um CAC", disse o delegado Fernando Santiago, do Denarc, responsável por uma das investigações em andamento na Polícia Civil.

De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, coordenador de grupo especializado no combate ao crime organizado do Ministério Público de SP, o serviço de inteligência do Gaeco já tinha detectado ordens de integrantes da cúpula do PCC para compra de armas por meio de CACs pelo custo e pela facilidade.

"Não vou revelar informações de investigações em curso, mas nós já tivemos informação de que eles estavam usando, sim, laranjas diante da facilidade para se tirar um certificado de atirador, colecionador."

Para o promotor, que também é atirador há cerca de 30 anos, as facilidades de acesso às armas do Brasil ajudam também a vida do crime organizado. "Com essa abertura para compra de armamento, inclusive estrangeiro, hoje você pode comprar um fuzil .556 legalizado, por R$ 12 mil, R$ 14 mil no mercado. Eles pagavam por esse armamento, R$ 40 mil, R$ 50 mil ou até R$ 60 mil", disse.

Embora o alvo principal da investigação seja o suposto uso de laranjas, os policiais também apuraram ainda o registro em nome de pessoas com antecedentes criminais, ligadas à facção.

Caso de Jair Ramos de Freitas, o Cachorrão, possível integrante do PCC preso na semana passada pelos policiais do Deic (departamento de combate ao crime organizado) sob a suspeita de participação do assassinato de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da Transunião, em março de 2020.

Segundo o Deic, ele tinha passagens por roubo, receptação, lesão corporal e por tentativa de homicídio. Ainda assim, de acordo com documentos obtidos pela reportagem, na casa dele os policiais aprenderam uma pistola calibre .380, munição, certificado de registro da arma e, ainda, como atirador desportivo, ambos em nome dele. A reportagem aguarda resposta do Exército para saber se os documentos são verdadeiros.

De acordo com Bruno Langeani, pesquisador do Instituto Sou da Paz, a informação de pessoas do crime organizado infiltradas entre os CACs para aquisição de armas já existia no período pré-Bolsonaro.

"Isso já acontecia, de certa forma, mas com o [Jair] Bolsonaro isso mudou de patamar. E por quê? Porque, antes, não podia ter qualquer arma. Não se podia ter fuzil. E não se chegava no primeiro mês como atirador esportivo comprando tudo, qualquer arma. Isso tudo foi removido", afirmou.

O advogado Mário Viggiani Neto, que representa o dono das armas apreendidas (parente de Anísio Amaral da Silva), disse que todas as armas apreendidas pela Polícia Civil estavam legalizadas e afirmou ter havido abuso de autoridade por parte dos policiais nessa apreensão. A Folha não informa o nome do proprietário das armas porque ele não é formalmente investigado no inquérito.

"Prefiro não declarar nada por enquanto. Em breve será notório o abuso de autoridade cometido pelo Denarc e nenhuma prova será apresentada por eles", disse Viaggiani.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do diretor da empresa.

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