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EDUCAÇÃO G1

Trend do corte seco: imitando youtubers, crianças comem sílabas e ‘desesperam’ pais e professores

Alunos de 6 a 12 anos falam: 'Quero comer hambúr!' ou 'Vou para escó', por exemplo. Entenda se brincadeira pode trazer prejuízos para o desenvolvimento cognitivo na infância. ‘Trend do corte seco’: imitando youtubers, crianças ‘comem’ a última sílaba das frases
“Mãe, a Helena pegou meu casá!”
“Teacher, posso ir ao banhê?”
“Eu tô com fó!”
As frases acima foram ouvidas por mães e professoras que já estão desesperadas: não aguentam mais ouvir as crianças “comendo” a última sílaba de cada sentença. “Preciso pegar o livro”, por exemplo, vira “preciso pegar o lí”. Os adultos que lutem, em casa e na sala de aula, para adivinhar qual palavra foi encurtada.
“Surto todo dia com isso!”, diz a escritora Carol Campos, mãe de Pedro, de 9 anos (que ama tomar água de “cô” e ir ao “cinê”).
📱Essa “mania linguística” — que atinge principalmente alunos de 5 a 12 anos — virou “a trend do corte seco” no TikTok: familiares gravam crianças falando desse jeito e postam o vídeo nas redes (..

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Alunos de 6 a 12 anos falam: 'Quero comer hambúr!' ou 'Vou para escó', por exemplo. Entenda se brincadeira pode trazer prejuízos para o desenvolvimento cognitivo na infância. ‘Trend do corte seco’: imitando youtubers, crianças ‘comem’ a última sílaba das frases
"Mãe, a Helena pegou meu casá!"
"Teacher, posso ir ao banhê?"
"Eu tô com fó!"
As frases acima foram ouvidas por mães e professoras que já estão desesperadas: não aguentam mais ouvir as crianças “comendo” a última sílaba de cada sentença. “Preciso pegar o livro”, por exemplo, vira “preciso pegar o lí”. Os adultos que lutem, em casa e na sala de aula, para adivinhar qual palavra foi encurtada.
“Surto todo dia com isso!”, diz a escritora Carol Campos, mãe de Pedro, de 9 anos (que ama tomar água de “cô” e ir ao “cinê”).
📱Essa “mania linguística” — que atinge principalmente alunos de 5 a 12 anos — virou “a trend do corte seco” no TikTok: familiares gravam crianças falando desse jeito e postam o vídeo nas redes (alguns, apenas para efeitos de humor, outros, para compartilhar a angústia de não escutar as frases até o final). Um desses registros passou de 3 milhões de visualizações.
Mas de onde veio essa “moda”? Isso pode ser prejudicial para o desenvolvimento infantil? O g1 entrevistou fonoaudiólogas e educadores para entender as possíveis consequências da brincadeira. Em resumo:
Como o hábito de cortar sílabas provavelmente é resultado da influência de youtubers na linguagem das crianças (entenda mais abaixo), pode ser que o tempo de exposição a telas esteja excessivo.
Quem "come" o fim das palavras acaba comprometendo a clareza da comunicação. Isso dificulta o diálogo.
O "corte seco", para alguns especialistas, prejudica crianças em fase de alfabetização, especialmente nos processos de formação de palavras e de fluência leitora.
Por outro lado, se o aluno já dominar bem essas habilidades, pode usar a brincadeira como estímulo cognitivo (desde que não passe o dia inteiro falando desse jeito, claro).
Veja abaixo os detalhes.
📢De onde veio a “febre”?
“Noto que são os alunos maiores, com acesso ao celular, que acabam falando desse jeito”, conta Clarice Kumaru, professora de inglês do ensino fundamental I em uma escola particular de Canhotinho (PE).
Ela explica que alguns youtubers e tiktokers produzem vídeos “infantis” com este estilo de edição, para que os posts fiquem mais dinâmicos: fazem cortes secos no final das frases, antes mesmo de as palavras serem ditas por inteiro.
“Se você assistir a um vídeo dos Irmãos Natu, por exemplo, vai notar esses pequenos cortes. As crianças imitam com mais exagero: já tiram a sílaba inteira”, diz a docente. “Virou um hábito constante, até na hora de pedirem para beber água.”
Em São Paulo, a escritora Carol Campos, citada no início do texto, também percebe essa associação entre o celular e a nova mania das crianças.
“Infelizmente, a forma de falar dos influenciadores digitais, especialmente os do Youtube, não ajuda muito. É tudo rápido e até com certo grau de agressividade”, diz. “E não é algo raro. [Com o meu filho], acontece de ‘comer’ as palavras principalmente quando ele está nos contando algo da escola. Como me incomoda bastante, sempre o alerto.”
➡️Os efeitos são em cadeia: um aluno, espectador assíduo de "shortz" no Youtube, começa a imitar os influenciadores e a cortar a última sílaba das palavras na escola. Mesmo os amigos que não assistem aos vídeos passam a imitá-lo. O que começou em um grupinho já contagia a sala… e a escola inteira.
“Em outro colégio onde eu dava aula, o hábito era ainda maior, porque todos tinham resistência a falar do jeito normal. Só queriam [pronunciar ]‘cortado’. Quando eu pedia para falarem a palavra completa, ficavam com vergonha e desistiam”, conta a professora Clarice.
👨‍👨‍👧‍👦O ‘corte seco’ pode prejudicar as crianças?
Não há consenso entre os especialistas: há quem ache que é apenas uma brincadeira inofensiva, como a antiga “língua do p”, enquanto outros se preocupam com os possíveis danos na alfabetização e na comunicação infantil. Veja os pontos principais:
Excesso de telas e sintoma da vida acelerada:
Se a criança estiver sendo influenciada pela maneira como youtubers falam, talvez isso seja um sinal de que ela passa tempo de mais em frente a tablets e celulares.
A fonoaudióloga Ângela Ribas, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), reforça que os responsáveis devem limitar o tempo de exposição a telas. “Crianças em fase escolar necessitam de estímulos muito mais ricos do que aqueles produzidos na internet”, afirma.
É a mesma preocupação manifestada por Carol, mãe de Pedro. Ela faz um balanço: seu filho fica mais tempo diante de ‘youtubers’ do que de contadores de história, por exemplo.
“Achei que essa mania de cortar as palavras existisse só na escola do meu filho. Mas, ao entender que virou uma ‘trend’, fico pensando se não estamos criando uma geração que quer acelerar tudo. Já estão escrevendo cada vez de forma mais abreviada quando usam celular”, conta. “Querem tudo mais rápido e mais curto.”
Américo Amorim, pesquisador afiliado na New York University e doutor em educação pela Universidade Johns Hopkins, também destaca o cuidado que devemos ter para não “agitar” tanto a vida das crianças. “Deixá-las assistirem a vídeos na velocidade 2x pode aumentar os níveis de ansiedade delas”, afirma.
Perda de sentido nas frases:
Amorim lembra que as últimas sílabas das palavras, na língua portuguesa, trazem mudanças importantes no significado, como: o gênero (“aluno”, “aluna”), o número (“sanduíche”, “sanduíches”), o tempo verbal (“caminharam” ou “caminharão”), a pessoa verbal (“participou ou “participei”) etc.
“Pode haver situações em que a própria formação de vocabulário vai ficar prejudicada, porque a criança não ouve a palavra inteira. Isso atrapalha também a interpretação textual”, diz.
A fonoaudióloga Mayra Camargo, mestre em distúrbios da comunicação e especialista em linguagem oral, presencia exemplos tanto com pacientes quanto com suas filhas.
“Insisto na importância de uma comunicação clara e articulada. Aqui em casa, eu vejo que uma criança precisa ficar perguntando para outra: ‘quê? O que você falou?’. E não é algo pontual: virou uma mania que dificulta o diálogo”, diz.
Dificuldades na alfabetização ou estímulo cognitivo?:
Nesse tópico, os especialistas ouvidos pela reportagem demonstraram diferentes posicionamentos. Amorim, por exemplo, afirma que o “corte seco não é bom para a alfabetização nem para a fluência da leitura”, porque os alunos podem passar a achar que as palavras são deste jeito, “cortadas”.
“Isso gera problemas na escrita e na compreensão dos diferentes tempos verbais”, diz.
Já a psicóloga e educadora Cláudia Tricate, diretora do Colégio Magno (SP), acredita que haja uma problematização excessiva no que é apenas uma brincadeira.
“'A língua do p' de antigamente, não atrapalhou ninguém. É natural experimentar esses jogos linguísticos. Não há razão para se preocupar”, afirma.
Essa também é a linha de raciocínio de Ribas, fonoaudióloga do Pequeno Príncipe. Ela diz que “comer” a última sílaba da frase ainda desenvolve estratégias mentais e cognitivas das crianças. “Elas aprendem a manipular os sons das palavras”, diz.
Tudo vai depender também da faixa etária e do perfil dos alunos. É preciso monitorar se a brincadeira está interferindo na aprendizagem.
Falta de acessibilidade:
Mayra Camargo, citada mais acima, diz que atende pacientes com distúrbios no processamento auditivo central — eles ouvem bem, mas não conseguem prestar atenção a todos os sons de uma palavra. Em geral, acabam se atendo sempre ao fragmento final de cada termo. “O que fica na cabeça deles é o último som que escutaram. Com essa brincadeira, isso se perde. Vão ser prejudicados”, afirma.
‘Meu filho não para de fazer o corte seco. Devo intervir?'
⌚É preciso estipular o momento certo para a brincadeira. A criança deve entender que nem todos os contextos são adequados para fazer esses jogos de sons. Se, no meio da aula ou ao conversar com os pais, ela insistir em cortar as sílabas, você deve intervir. Explique que, para uma conversa dar certo, todos os participantes devem se comunicar de forma clara e eficaz. Sugira alguma outra oportunidade para que ela faça o “jogo do corte seco” — talvez, durante a visita de um amiguinho no fim de semana.
📖Fique atento principalmente se seu filho estiver em fase de alfabetização. Não há uma conclusão científica única a respeito de possíveis prejuízos no aprendizado da leitura e da escrita. Se você notar que a criança está pulando algumas sílabas ao redigir uma frase, converse com ela e com os professores. E, caso ela tenha um colega com distúrbios no processamento auditivo central, explique que a brincadeira deve ser evitada para que ninguém se sinta excluído.
📵E o principal: fique atento ao tipo de estímulo que seu filho está recebendo. Ele precisa estar mais exposto a diálogos no dia a dia e a contação de histórias, por exemplo, do que a vídeos do TikTok ou a "shortz" do Youtube. Não permita que o principal “influenciador” da linguagem da criança esteja do outro lado de uma tela.
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Sisu 2025: inscrições começam 17 de janeiro; veja cronograma

Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham ..

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Assim como em 2024, as inscrições do Sisu só serão abertas em janeiro. Programa usa as notas do Enem para aprovar candidatos em universidades públicas. As notas do Enem são utilizadas no processo seletivo do Sisu.
Mateus Santos/g1
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 estarão abertas entre 17 de janeiro e 21 de janeiro, conforme edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (26). O resultado da chamada regular será divulgado no dia 26 de janeiro.
Assim como em 2024, o programa terá apenas uma edição — só em janeiro, sem o processo seletivo que usualmente acontecia nos meses de junho ou julho.
Por meio dessa etapa única, os candidatos poderão usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 para concorrer, em universidades públicas, a cursos cujas aulas começarão tanto no primeiro quanto no segundo semestre (entenda mais abaixo).
Tire suas dúvidas abaixo e veja o cronograma completo:
➡️Quem está apto a participar? Alunos que tenham feito o Enem 2024 e tirado nota acima de zero na redação. Treineiros não serão aceitos.
➡️Poderei escolher em qual semestre vou entrar na faculdade? Não. Caberá à universidade, por meio da ordem da lista de classificação de candidatos, selecionar quem estudará em cada semestre. A classificação é determinada pelo desempenho de cada participante no Enem 2024.
➡️O programa possui cotas? Sim, e funciona da seguinte maneira:
Todos os candidatos concorrerão, primeiramente, às vagas de ampla concorrência.
Caso não alcancem as notas nesta modalidade e façam parte de algum dos grupos de cotas (os critérios são de raça e de renda), aí, sim, entrarão na disputa pelo benefício.
Com isso, se uma pessoa autodeclarada preta, por exemplo, tirar uma nota mais alta que a exigida na ampla concorrência, será aprovada na "lista geral" e não tirará a vaga de um cotista com desempenho mais baixo.
➡️Qual o cronograma?
Inscrições: 17 a 21 de janeiro
Resultados da 1° chamada: 26 de janeiro
Matrículas: 27 a 31 de janeiro
Manifestação de interesse na lista de espera: 26 a 31 de janeiro
5 cuidados para tomar ao se inscrever no Sisu

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Bombou no g1: questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova; relembre

Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
“Isso é conteúdo de faculdade!”, “Como você quer que eu saiba?” e “Cadê o resto [da questão]?”. Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia qu..

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Aparente falta de dados em um enunciado de matemática assustou participantes da prova. Bastava, no entanto, que os números fossem substituídos por incógnitas (como 'a', 'b' e 'c'). Questão de matemática do Enem 2024 viraliza nas redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2024. Hoje é dia de relembrar sobre a questão do Enem 2024 sobre média de notas tirou paz dos estudantes durante a prova.
Essa reportagem foi originalmente publicada em novembro.
Relembre
"Isso é conteúdo de faculdade!", "Como você quer que eu saiba?" e "Cadê o resto [da questão]?". Essas foram algumas das manifestações de revolta de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, no último domingo (10), diante de uma pergunta de matemática (⚪147 da prova cinza, 🟢155 da verde, 🔵137 da azul e 🟡164 da amarela).
Ela pedia que os estudantes calculassem a média no boletim de uma pessoa, sem que nenhuma nota fosse divulgada no enunciado. A única informação disponível era a seguinte: quando o "personagem" fez a conta, dividiu o total por 5, e não por 4. E, com isso, chegou a um resultado que era uma unidade menor do que o correto.
Segundo professores de quatro cursinhos ouvidos pelo g1 (Anglo, pH, Poliedro e Professor Ferretto), essa questão não estava entre as 10 mais difíceis da prova. O que provavelmente desestabilizou os candidatos foi a aparente (e ilusória) falta de dados.
Abaixo, veja a resolução feita por Rodrigo Serra, professor de matemática do Colégio Oficina do Estudante:
Questão sobre média de notas viraliza nas redes: 'cadê o resto da pergunta?'
🖊️ Resposta: B.

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A radical teoria pós-quântica, que tenta responder o que Einstein não conseguiu

A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
“Uma nova moda surgiu na Física”, queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa “moda” era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
“Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física”, chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons,..

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A Física moderna é baseada em dois pilares: a física quântica e a teoria da relatividade geral. O problema é que ambos são incompatíveis. 'A última palavra ainda não foi dita', disse Einstein sobre uma das maiores questões da Física moderna
Getty Images/via BBC
"Uma nova moda surgiu na Física", queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930.
Essa "moda" era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915.
"Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física", chegou a dizer o famoso cientista.
O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis.
Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna.
💡A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons, glúons e quarks que constituem os átomos.
💡Por sua vez, a relatividade geral, que é a moderna teoria da gravidade, provou ser a melhor descrição de tudo o que acontece em grande escala, desde o funcionamento do Sistema Solar e dos buracos negros até a origem do universo.
No entanto, elas permanecem contraditórias entre si. Ou seja, as regras da relatividade geral funcionam perfeitamente para as galáxias, bem como para tudo o que nos rodeia e é visível: uma árvore, um gato, uma pérola…
Porém, assim que analisamos o comportamento de algo tão pequeno como um átomo, tudo muda.
Os pesquisadores não conseguem nem usar a mesma Matemática para explicar uma teoria e outra.
De alguma forma, a natureza consegue fazer com que os dois sistemas coexistam — mas a Ciência ainda não fez o mesmo.
Para muitos, esta incompatibilidade é a maior questão sem resposta da Física.
Einstein e milhares de outros pesquisadores em todo o mundo procuraram criar uma teoria que unisse a física quântica e a relatividade geral.
É o que muitos chamam de "teoria de tudo", um nome tão atraente que virou título do premiado filme biográfico de Stephen Hawking, um dos renomados cientistas que tentaram — também sem sucesso — encontrar o "Santo Graal" da Física.
Agora, uma nova teoria propõe uma virada radical nesta charada secular.
Seu nome, porém, é menos mercadológico: ela é chamada de teoria pós-quântica da gravidade clássica e é liderada pelo físico Jonathan Oppenheim, do Instituto de Ciência e Tecnologia Quântica da Universidade College London (UCL), no Reino Unido.
Trata-se de algo tão revolucionário que mesmo alguns dos seus detratores reconhecem que essa é a primeira abordagem verdadeiramente original a surgir em pelo menos uma década.
Há mais de 100 anos vivemos num universo cujas bases foram estudadas e definidas por Einstein
Getty Images/via BBC
A quarta força fundamental
Embora possa parecer contraditório, um dos aspectos mais inovadores da teoria de Oppenheim é o termo "clássico" em seu nome.
Até agora, a abordagem predominante para resolver a incompatibilidade entre a física quântica e a relatividade geral envolve modificar o último sistema para ajustá-lo ao primeiro.
É o que os físicos chamam de "quantização", porque no final ela se converte numa teoria quântica.
"Quantizar" a relatividade geral faz ainda mais sentido se pensarmos que é algo que os cientistas já conseguiram fazer com as outras três forças fundamentais que governam o universo: a força nuclear fraca, a força nuclear forte e a força eletromagnética.
Mas eles simplesmente não conseguiram fazer o mesmo com a gravidade — e não foi por falta de tentativa.
"É um problema matemático muito difícil", contextualiza Oppenheim à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Mas também é conceitualmente complicado, porque essas duas teorias têm diferenças tão fundamentais que é muito difícil conciliá-las."
Ele explica: "Quase todas as tentativas assumiram que devemos 'quantizar' a gravidade. A minha sensação sobre a razão pela qual essa tarefa tem sido tão difícil é que talvez não seja possível e que apontamos para a coisa errada."
Por isso, o pesquisador e a equipe dele decidiram mudar o foco e "modificar um pouco, ou muito, a teoria quântica, para que esses dois sistemas possam se encaixar".
Na nova teoria, publicada em dezembro de 2023 nas revistas Nature Communications e Physical Review X, a relatividade geral continua a ser uma teoria não quântica, ou clássica.
A física Sabine Hossenfelder, do Centro de Filosofia Matemática de Munique, na Alemanha, que não fez parte da pesquisa da UCL, diz à BBC News Mundo que a ideia de Oppenheim "é muito legal".
"É muito raro neste campo ver nascer uma nova ideia", observa a especialista.
Hossenfelder fez parte de um comitê que revisou a teoria há seis anos e, embora a achasse interessante, considerou que ela era "muito especulativa, imatura e vaga".
"Tinha tantas pontas soltas que parecia que poderia falhar completamente, por isso fiquei muito impressionada quando vi o que saiu vários anos depois, porque abordava quase todos esses pontos levantados", diz ela, que esclarece com um sorriso "sempre ter algo a comentar e a observar".
Dois conceitos básicos e um 'inaceitável'
O tecido (quadriculado branco na ilustração), que representa o espaço-tempo, deformado por uma bola (em amarelo), que faz alusão a uma estrela como o Sol
BBC
Uma bola de menor massa (em verde) acompanha a curvatura do tecido quadriculado causada pela maior (em amarelo), como acontece com a Terra em relação ao Sol
BBC
Antes de seguir a explicação sobre a teoria de Oppenheim, é importante compreender o conceito básico da relatividade geral e uma das características da física quântica que mais perturbou Einstein.
O que Einstein fez para revolucionar a Ciência em 1915 foi definir a gravidade como "uma deformação do espaço-tempo".
A maneira mais fácil de compreender esse conceito é pensar em um trampolim onde colocamos uma bola pesada — por exemplo, uma bola de bilhar.
Quando uma coisa dessas acontece, o tecido afunda no local onde a bola está.
Agora, imagine jogar nesse mesmo trampolim uma bola mais leve (uma bola de gude), e tentar fazê-la girar na borda da curvatura do tecido relacionada ao peso da bola mais pesada.
O que acontece é que a bola de gude vai se mover em círculos cada vez menores, aproximando-se da bola de bilhar.
Segundo a teoria da relatividade geral, isso não acontece porque a bola de bilhar exerce sobre a bola de gude uma força de atração invisível, mas porque o formato do tecido — ou melhor, a sua deformação — a obriga a fazer essa curvatura.
Na teoria de Einstein, o espaço-tempo faz a mesma coisa de forma quadridimensional — de modo que a Terra gire em torno do Sol, por exemplo.
Oppenheim explica que, na teoria pós-quântica da gravidade clássica "o espaço-tempo se mantém como aquele tecido em que vivem as partículas quânticas, tal como Einstein concebeu".
O que muda é que o espaço-tempo incorpora o acaso da física quântica, característica que deu origem a uma das frases mais famosas de Einstein: "Deus não joga dados."
Einstein acreditava que faltava informação na "moda" da física quântica, mas o que décadas de estudos têm mostrado é que a aleatoriedade não se deve a um erro na teoria ou a uma falha nas medições, mas a uma característica inerente ao comportamento das partículas fundamentais.
Oppenheim e sua equipe unem a física quântica e a relatividade geral, tornando o espaço-tempo também inerentemente aleatório.
"Ainda temos essa aleatoriedade na teoria quântica, mas ela é mediada pelo próprio espaço-tempo", explica o físico.
Em outras palavras, o próprio tecido começa a apresentar oscilações aleatórias.
Isto é algo "inaceitável" para muitos dos seus colegas — e é provável que Einstein também pensasse o mesmo.
"A estrutura aleatória do espaço-tempo é o que, em certo sentido, lança os dados na teoria quântica", compara Oppenheim, parafraseando Einstein.
'Ganha-ganha'
"Cada vez que você propõe uma nova teoria, é preciso fazer uma série de verificações para ver se ela é consistente com as observações", explica Oppenheim.
"E é emocionante que esta teoria faz previsões que podem ser testadas experimentalmente."
"Ao levar em conta que esta teoria exige que o espaço-tempo tenha flutuações, podemos busca-las", acrescenta ele.
Para isso, os pesquisadores propõem medir o peso de uma massa com extrema precisão e verificar se ela é constante ou se apresenta certas oscilações.
Por exemplo, o Escritório Internacional de Pesos e Medidas, localizado na França, pesa rotineiramente um objeto que foi usado para criar o padrão mundial do que é hoje considerado exatamente um quilo.
Ao utilizar novas tecnologias de medição quântica, de acordo com a teoria pós-quântica da gravidade clássica, o peso do referido objeto deixaria de ser um quilo e se tornaria imprevisível.
"Se encontrarmos as flutuações, provaremos que a teoria é verdadeira e, se não as encontrarmos, conseguiremos refutá-la", diz Oppenheim.
"Isso é particularmente emocionante", confessa ele.
Mas há ainda mais coisas a descobrir.
Oppenheim entende que a nova teoria poderia responder a outra das grandes incógnitas da Física moderna: o que são a matéria escura e a energia escura.
Para entender a importância disso, é primeiro antes saber o que esses conceitos são (e não são).
Todos os planetas, estrelas e objetos cósmicos visíveis são feitos da chamada matéria normal. Juntos, eles representam cerca de 5% do universo.
Os 95% restantes ainda são um mistério — e por isso são chamados de matéria escura e energia escura.
Se nos estudos para verificar a nova teoria, as flutuações forem suficientemente intensas, elas "seriam candidatas muito fortes para o que pensamos ser matéria escura e energia escura", segundo Oppenheim.
"Isso explicaria 95% da evolução do Universo, o que representaria um grande impacto", complementa o pesquisador.
Por sua vez, Hossenfelder destaca que a equipe da UCL desenvolveu uma Matemática completamente nova para esta teoria e afirma que a mera existência desses trabalhos pode ser útil para outros fins.
Em suma, a história da Ciência está repleta de pesquisas que tiveram aplicações inesperadas.
O próprio Einstein, aliás, acendeu a centelha que levou à física quântica — a qual ele renunciou até o fim da vida.
"Se houvesse algo que pudesse confirmar que estas previsões são verdadeiras, isso seria muito interessante e certamente atrairia diversas pessoas para observá-las mais de perto", considera Hossenfelder.
Mas a teoria só foi publicada há um ano — e derrubar décadas de consenso científico baseados nos estudos encabeçados por Einstein não será fácil.
Hossenfelder é cética sobre a nova teoria — algo que, na opinião dela, a coloca numa posição de "ganha-ganha".
A cientista ganha se estiver certa no ceticismo dela. Mas também ganha se estiver errada, porque isso significaria que ela — e todos nós — testemunhamos em vida o nascimento de uma nova revolução da Física.
*Com reportagem de Max Seitz.
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